falam, falam sem parar, com gosto, com desconversa, tocando tudo, qualquer assunto, das coisas deste Mundo, comezinhas, insignificantes, com as quais, me avesso, confundo, numa posição de remessa, com bagagem bem avultada, falando de tretas, de tratantes, de casos aqui passados, de vizinhas, de filhos e filhas, de netos, de complicações, aversões, a muitas milhas, condições bem esquisitas, ligadas, interligadas, algumas, mais que finitas, recordares pequenos nadas!!!...
não falam mal, de ninguém, ficando muito aquém, do disparate, do dislate, com assuntos de entretém, um passar tempo, simplesmente, de quem dispõe, como um vate, duma resma de palavras, guardadas, que as junta, é evidente, as arruma, bem rimadas, as aninha, umas nas outras, fazendo conversas loucas, passatempo conveniente, de quem ri, chora e sente, estes episódios conjugais, entre mulheres boas vizinhas, tão iguais, como as mais, num falatório constante, tão normal não aberrante!!!...
gosto de ouvir, lá ao longe, o murmúrio da conversada, no meu eremitério, como um monge, sem assunto, como um nada, inventando, congeminando, dando azo, criando, algo que vai surgindo, enquanto escrevo sorrindo!!!...
falam, falam, sem parar, numa conversa, desconversada, falando só por falar!!!... Sherpas!!!...
não, não é eremitério, tão pouco cemitério, nem pensar em clausura voluntária, em morte suicida, provocada, como alimária, irracional, na bestialidade, pura verdade, tal o sossego, a afastamento, puro recolhimento, protecção, morte momentânea, solidão, cada rato, no seu buraco, por grupos, por agregados, protegidos, abrigados, bem longe da agressão, dos raios solares, implacáveis, quentes e feros indomáveis, por aqui, na planura, interiorizada, mais que parada, desertificada, pouco nada feérica, sem encantamentos, sem mágica!!!...
terra de encantos tamanhos, tão causticada, pela incúria, pelo abandono, pelos fenómenos atmosféricos, terra de muitos enganos, com excesso de calor túmulo de sonos, sestas e sornas, preguiça que se atiça, ao longo de tardes quentes, mornas, ao invés do Estio, na Invernia, com frio, calores esotéricos, no conchego da lareira, chamas que brilham, encantam, irmanam, fazem recordar, apagar o televisor, sentir uma morte, uma falta, uma dor, uma lágrima que cai, um fantasma que sai do fundo das nossas recordações, fantasmas perenes, presentes, emoções nunca ausentes!!!...
vivemos arrecadados, ao longo do dia, em comunhão, em união, pelo calor, pelo frio, no Inverno, no Estio, partilhando amor, segredos nossos medos, esperanças remotas, notas soltas, sem muitas entregas desconfiados, quando nos tramam, quando nos enganam, com outras escolhas, que não as nossas, causadoras de tantas mossas, feridas e chagas, como as dum Cristo crucificado, nossa culpa, nosso pecado, em clausura, por escolha própria, não por usura, que fartura, para aqui fechado mais que abrigado!!!...
valham-nos as madrugadas, as noitadas bem prolongadas, junto de casa, numa conversa de esplanada, sem jeito, desvairada, sem assunto, falando de tudo, falando de nada, das coisas deste Mundo!!!... Sherpas!!!...