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Sherpasmania

... albergue de poemas, poesias e... outras manias, bem sentidas, por sinal!!!...

Sherpasmania

... albergue de poemas, poesias e... outras manias, bem sentidas, por sinal!!!...

31
Jul05

... lixo, junto do... lixo!!!...

sherpas

… lá o vi, no sítio de sempre, junto do contentor do lixo,

vasculhando, atento, insistente,

restos, sobras, sacos vazios, uma côdea dura,

carne, fruta, o que se encontra, se desfruta,

DSC00920.JPG

olhar aguçado, fixo, longe dali, indiferente,

roupas sujas, nódoa completa...

gastas, simples fios, fome que avoluma, que aperta,

 

estômago já habituado, martirizado... na penúria,

na miséria, nos dias que passam, lentos, escassos,

bem longe dos grandes repastos...

 

numa busca constante, em qualquer lado,

na sobrevivência que se arrasta, indigente de pouca monta,

quando se sente, se afasta... da vida passada,

 

mais séria, ainda com casa, bem empregado,

imagem que não vê, que não conta,

entregue que está àquele estado...

 

vasculhador de contentor,

buscador de sobras, restos, seja lá onde for,

num deambular permanente... parco nas palavras, nos gestos, sujo, nódoa indecente!!!...

 

em bicos de pés, se inclina, vai ao fundo,

reclina, quase adentra na porcaria, mistura que se não distingue,

quando passo, olho, disfarço, lixo fora, lixo dentro, quando penso,

me concentro...

 

situação reles, hipocrisia, sociedade que avança,

que finge, ignora o escarro, porque mente... pegada ténue, gritante,

de miserável, aviltante!!!...

 

mais um pedaço de pão, cheira, deita fora,

embalagem, quase vazia, lambe, guarda num saco, ainda não foi embora,

não descola, agarra, abre com lentidão,

 

averigua aquela fatia, não sente vómito, não sente asco,

é presunto, meio amarelado, coloca noutra sacola,

revolve, torna a olhar, revira, volta a revirar, com uma visível indiferença, pelo entorno, pelo lugar...

 

no que havia de dar, quando intenta… quando pensa!!!...

 

corpo dilacerado, mente embutida,

desde que se encontra naquela vida,

farrapo andante, contentor com pernas, sacos cheios, com dores, com restos,

revezes da vida, imundas lucernas... parcos os gestos,

 

quase de rastos, quando... com fomes, se empina, seja onde for,

nos caixotes, lixeiras, sobras,

é o que comes, não pagas… não cobras!!!... Sherpas!!!...

 

30
Jul05

... com gentes destas... pedradas, claro!!!...

sherpas



… num rodopio, numa fúria,
numa invectiva, numa injúria,
com má cara, fazendo de conta,
mal que desfia, que aponta,
virulento, frio calculador,
palhaço dele próprio, impostor,
ridículo, no palavreado,
figura patusca, tosca,
boçal e imbecil, coitado,
quando se empina, quando se encosta,
em requebros, em movimentos,
ameaçadores, violentos,
tal vendedor arrebatado,
convencendo, convencido,
aldrabão aborrecido,
bem no lugar, postado,
boneco de papel, frágil,
amarrotado, velho, pouco ágil,
passado de triste memória,
vergonha do pensamento,
outra estória,
ágrio, logro… intento!!!...

… o político de agora,
o que ainda não acabou, o que vigora,
o corrupto, o vendido, o promíscuo,
desde há tempo, bem longínquo,
que se perde em conjecturas,
berradas, com ódios, manhas,
quando, lá nas alturas,
pejado de tantas sanhas,
não se contém, intervém,
sempre do mesmo modo,
não respeitando ninguém,
provocando muito incómodo,
não mudando, nem um pouco,
procedendo como um louco,
protegido, ignorado, imunizado,
quase sempre tresloucado,
numa bancada de feira,
palhaço de triste figura,
num palco, sem eira, nem beira,
que caldo, que mistura!!!...

… sinto pena, quando vejo,
quando oiço tal pessoa,
tanto lá, como em Lisboa,
passeando sua desfaçatez,
quase sempre antevejo,
o mal que vai fazendo,
quando se mostra soez,
embriagado, desfazendo,
de tudo quanto é diferente,
no País que o aguenta,
como besta, não como gente,
quando grita, quando inventa,
numa loucura perene,
procedendo como… um verme!!!... Sherpas!!!...



29
Jul05

... como tema... a política???...

sherpas



… quero fugir, como tema, da política,
quero sentir coisas normais,
quero olhar à volta, encontrar um sorriso,
ouvir uma voz bonita, um chilreio,
quero ficar, com o que se fica,
quando satisfeito, como os mais,
cantando, brincando, quando preciso,
alegremente, com devaneio,
deslumbrado por uma cor berrante,
embevecido por um mar espelhante,
por um céu azul, continuado,
por um Sol abrasador, abafado,
por uma sombra densa, refrescante,
num banco, num recanto, num jardim,
no centro duma cidade qualquer,
sentindo-me vivo, participante,
no movimento intenso, formigueiro,
renovado, quase sem fim!!!...


… na labuta que se sente, que se quer,
como parte íntegra, peça que se completa,
nesta amálgama confusa, constante,
nesta caminhada teimosa,
que se pratica, todos os dias,
com tristezas, alegrias,
com emoções, efusões,
com estéticas, poéticas,
com muitas contradições,
mais fechadas, mais abertas,
bem concretas,
numa procura incessante,
dum sentido, duma justificação,
para o que, nesta vida, se não tem,
com introspecção,
como convém!!!...

… quero ouvir, apreciar… boa música,
representação excelente, exímia,
bom bailado, já acabado, posto de lado,
imagens luminosas, preparadas, formosas,
pinturas, esculturas, obras máximas,
sob miradas atentas de apreciadores,
ler livros, compreender conteúdos,
guardar o melhor, valores,
cimentar as bases, com outros Mundos,
agregar em mim, o melhor de tudo,
calar, bem fundo,
fechar e repartir, depois de compreendido,
tudo o que tiver comigo,
depois de mastigado, digerido!!!...

… gozar o momento, olhar em frente,
compreender toda a gente,
ficar maravilhado com a natureza,
toda a grandiosidade, a beleza,
o mais singelo e pequeno,
colocar num esconderijo, obscuro,
a visão política, voraz, fremente,
o lado mais sujo, mais duro,
que não sente,
material, interesseiro,
comandado… pelo dinheiro!!!... Sherpas!!!...






29
Jul05

... intenso... o cheiro do incenso!!!...

sherpas



… intenso, o cheiro do incenso,
queimado na catedral,
nuvens de fumo se espalham,
ao longo da nave central,
pejada de muito crente, quando penso,
naquela tarde de festa,
muito longe do País,
como curioso, afinal,
não participe de tal gesta,
porque a fé, nada me diz,
meu pesar, meu grande mal,
em quem hei-de acreditar (???...)
depois de ver o que vejo,
tanta fome, tanta dor, tanta morte,
pouca ou nenhuma sorte,
coisas que não invejo,
permitidas pelos Deuses,
de todas as religiões,
são multidões, Senhor,
neste vale de lágrimas choradas,
seja onde for,
almas pobres, desencaminhadas,
oprimidas, aviltadas,
feridas… esfaceladas!!!...

… indiferentes, na catedral,
a rebentar pelas costuras,
o cheiro do incenso, é intenso,
padres, bispos, cardeal,
espargem fumos agridoces,
ao longo da nave central,
ao som das ladainhas,
quando lembro, quando penso,
no enorme ritual,
ouvem-se, sumidas, as vozes
dos outros, que não as minhas,
muito longe do País,
encenando a religião,
que a mim, nada me diz,
sem redenção, sem perdão,
um pouquinho de comiseração,
não entra em mim… negação!!!...

… pendentes dum gesto, dum sinal,
imbuídos de muita fé,
olham com gozo, respeito,
respiram o cheiro intenso,
no local, na catedral,
uns sentados, outros de pé,
agridoce, do incenso,
um rebanho dócil, sem defeito,
gente de muita fé,
bem longe de Portugal,
como curioso, afinal,
não crente, quando penso,
nos feridos, nas dores, nos mortos,
no massacre de tantos corpos,
padres, bispos, cardeal,
ao longo da nave central,
nuvens de fumo… de incenso!!!... Sherpas!!!...

28
Jul05

... pesadelo ou... trauma???...

sherpas



… indelével, imperceptível,
som disfarçado, quase apagado,
suave brisa, soprada, audível,
perpassa junto a mim, ao lado,
activa, sensível, a membrana auditiva,
alerta, coloca em sobressalto,
todo o meu ser, o conjunto,
o corpo que se ergue, num salto,
precavido, resguardado,
depois de avisado,
pelas ondas sonoras, débeis,
naquela mata profunda, soturna,
onde, ainda há pouco,
abrigado, estendido, cansado,
nem vivo, nem morto,
olhos entreabertos, pestanas carregadas,
recuperava do esforço,
soldados em marchas forçadas,
tempos de tropa, de quartéis,
emboscada nocturna,
inimigos por todo o lado,
guerras, guerrilhas no mato,
tempos do passado,
esgotados, ferozes, cruéis,
dever, sentido pátrio, mal amado,
farda, esgotamento, aviltamento,
atitude guerreira, entrega, denodo,
automática em riste, preparado,
por um leve ruído, sentido,
folha seca pisada, trazido pelo vento,
quase na mira, quase no engodo,
fim do caminho, naquele hiato,
dos que, dentro em pouco, feridos e mortos,
jazerão, esquecidos… seus corpos!!!...

… foi dura a refrega, sangrenta, pavor,
tiros, explosões de granadas, clarões,
gritos, gemidos, horror,
corridas, saltos, encontrões,
disparos, sem alvo certo, um calhar,
suores frios, arrepios, descontrole,
parceiro do lado que cai, se recompõe,
para não morrer, temos de matar,
fugas, recuos em tropel,
pelotão que se desmembra, se decompõe,
vegetação intensa, sombria, desenraizada,
esfacelada,
pelo tiroteio de rajada,
ceifando tudo a eito, sem jeito,
destruição intensa, confusão total,
um alto, sossego repentino,
um guincho, um choro… um hino,
apocalipse, ao Deus da morte
irracionalidade, agressividade,
vitória do mais esperto, do mais forte,
fuga, desorientação, realidade,
difícil situação, aberração,
sofrimento… emoção,
negação de tantos valores,
disfarçado de guerreiro,
metido num vespeiro,
defendendo o que não lhe pertence,
ainda jovem… não decente!!!...

… acordo, estremunhado,
de rompante, ofegante,
todo eu tremo, desorientado,
com alívio, pesadelo,
trauma que arrasto comigo,
trémulo, me agiganto,
me incorporo, penso e sinto,
quão estranho, desenquadrado,
o quadro que vivi, sonhando,
tão real, convincente,
bem marcado, lembrando,
imagens de guerras, de tiros,
noutras terras, em matagais,
enterrado em lodaçais,
sem piedade, sem suspiros,
sem lágrimas, sem jograis,
crescido, depressa de mais,
guerreiro feito a sério,
fardado, com automática,
num outro hemisfério,
bem longe, com pouca prática,
matando… para não matar,
contendo, para não chorar!!!...

… sonho ruim, pesadelo,
enfado, trauma que se queda,
situação passada numa guerra,
na mata sombria, escusa,
marca com que se fica, novelo,
dever que se não acusa,
enredo, novela… desvelo!!!... Sherpas!!!...

24
Jul05

... prédios... sem alma!!!...

sherpas



… quantas vezes nos cruzamos,
com vizinhos que nos são estranhos,
nos prédios em que vivemos,
dos quais, nada sabemos,
nesta corrida, pela vida,
nesta indiferença sentida,
desapego pelo que nos rodeia,
metidos connosco próprios,
num gesto que nos alheia,
nos afasta, nos alteia,
nos torna egoístas, impróprios,
nas cidades insensíveis,
sem urbanidade alguma!!!...


… gentes e gentes incríveis,
nesta passagem, que se esfuma,
numa rotina doentia,
corrida louca, insensata,
num vaivém constante, apressado,
indo para lá, p´ra qualquer lado,
vindo, não sei de onde,
como culpado, que esconde,
algo que não quer mostrar,
que nos faz desconfiar,
desconfiando, também,
quando cruzamos com alguém,
nas escadas do nosso prédio,
gaiola reduzida, tédio,
refúgio, albergue, couto,
espaço curto… tão pouco!!!...

… conheço de vista, somente,
cumprimento, porque gosto,
num instante, num repente,
esteja bem ou mal disposto,
nas escadas, onde me cruzo,
quando subo, quando desço,
sorrio, pergunto, faço conversa,
provinciano, tonto, néscio,
sem resposta, numa pressa,
desencontramo-nos, logo de seguida,
com gestos de toda a vida,
palavras contidas, parcas,
useiros, vezeiros,
maquinais e rotineiros,
nestes encontros, nestas escarpas,
quando escalamos escadas,
quando descemos, velozes,
metidos connosco, ferozes,
reduzidos nos sentimentos,
não paramos… por momentos!!!...

… ontem, caso estranho,
cumprimentei o vizinho de baixo,
recebi sorriso aberto,
não alargado, cabisbaixo,
palavras, pouco normais,
queixume, confissão, no concreto,
peso interior, necessidade,
lá me disse, pesaroso,
com muita pena e verdade,
no seu estado lastimoso,
que se tinha divorciado,
quedei, deveras… pasmado!!!...

… trocámos algumas palavras,
consolei, aconselhei, fui humano,
parados, naquelas escadas,
acontecimento bem estranho,
onde se não tem um momento,
na corrida, na vertigem,
se abafa o sentimento,
nas coisas que nos atingem,
sem um choro, sem um lamento,
excepção justificada,
pela dor, pelo sofrimento,
do vizinho separado,
perdido no Mundo, desamparado,
em busca de ombro amigo,
no encontro… que teve comigo!!!...

… depois, lá foi correndo, apressado,
para outro local, para outro lado,
fugindo do prédio, como antanho,
vítima ou carrasco, simples humano,
bem mais aliviado,
carregando suas penas, seus remorsos,
depois de ter parado,
naquele vão de escadas,
sem sorriso nos olhos,
duras vidas… separadas,
desentendidas, divorciadas!!!... Sherpas!!!...



23
Jul05

... o Mundo... muito pior!!!...

sherpas



… custa-me a entender,
tal como os outros, não sou melhor,
tão pouco, diferente,
o País está a arder,
o Mundo, muito pior,
tem morrido muita gente,
a insegurança é tremenda,
a crise, essa… aumenta,
tanto interna, como externamente,
paranóia colectiva,
globalização da indiferença,
falta de perspectiva,
futuro de pouca crença,
valores diminuídos,
espezinhados, esquecidos,
no pódio,
a morte, a doença, o ódio,
recalcamentos profundos,
avassalam mentes e corpos,
premeiam-se os imundos,
vão-se enterrando os mortos,
no meio de tantos fogos,
o País continua a arder!!!...

… já se tornaram habituais,
cenas de rebentamentos,
explosões contínuas, calculadas, frias,
esfacelando quem as faz,
seja rapariga ou rapaz,
desfazendo muitos mais,
mulheres, filhos e pais,
ao invés das alegrias,
tristes, chorados momentos,
devastação permanente,
perante olhos, mais que atentos,
ao sofrimento que se sente,
tanto fora… como dentro,
num País entristecido,
que vai ardendo, intensamente,
prostrado em crise profunda,
maltratado por essa gente,
pouco profícua… imunda,
a guerra vai aumentando,
o País vai ardendo,
há quem se mate, matando,
há quem incendeie… querendo!!!...

… por mais que tente, não posso,
não consigo perceber o quadro,
fim de tudo que é nosso,
num Mundo em que me não enquadro,
quanta vítima inocente,
quanta desolação provocada,
quanto incêndio intencionado,
numa guerra bem alargada,
em labaredas inumeráveis,
imagens inenarráveis,
nem às paredes confesso,
o desgosto que eu sinto,
porque, ao escrever… não minto!!!...

… muitas vezes me pergunto,
voltando, de novo, ao assunto,
porque razão, tanta raiva,
tanto ódio desatado,
tanta lágrima, tanto choro,
tanto ferido, tanto morto,
tanta miséria e desgosto???...
Decerto me responderão,
com lógica, discernimento,
que as coisas, são o que são,
agitação de momento,
ganâncias justificadas,
terrorismos existentes,
matérias ambicionadas,
atitudes indecentes,
lideranças confusas, dúbias,
mentiras pesporrentes,
desafogo de muitas fúrias,
logros, enganos, injúrias,
recalcamentos, revoltas,
confrontos e… reviravoltas!!!... Sherpas!!!...
23
Jul05

... compra de... peixe!!!...

sherpas



… o cheiro tresanda, emana… empesta,
parece dia de festa,
clientela que avulta, que se enumera, tira senha,
dia de compra de peixe, por inteiro,
arranjado, ali na banca, com gana,
gestos maquinais, repetitivos,
de quem, por obrigação, o amanha,
não há mal que se não sofra, que não venha,
incómodo que se prolonga, o dia inteiro,
tripas que se esventram, escamas, com sanha,
com denodo, com ou… sem vontade,
olhos abertos, aflitivos,
tal como os ditos, no gelo,
escancarados, vidrados, pura verdade,
às postas, estendidos, mortos, inertes,
não frescos, não vivos,
frios, desde há muito, num desvelo,
alinhados, dura realidade,
na montra, no escaparate,
na bancada do peixe,
lado a lado, não aos molhos, não em feixe,
convidativos, mas… mal cheirosos,
pouco ou nada apetitoso,
no que tresanda… que emana,
se não estranha!!!...

… que variedade, no dia da confusão,
com senha, numerados… na mão,
aguardando, cheirando,
olhando um belo cação,
carapauzinhos escorreitos, que perfeição,
não frescos, mortos, enregelados,
devidamente alinhados,
saborosa tentação,
só de lembrá-los, já fritos,
com arroz de tomate malandro,
estaladiços, quebradiços,
no restaurante, em qualquer recanto,
alívio, gozo, desafio ao sabor,
um encanto, um gosto… um alvor,
madrugada compensadora,
afronto o cheiro, aguardo a altura,
com senha na mão,
olhando o tamboril, apreciando o cherne,
antevendo o gosto, mais bem disposto,
depois de pronto,
no prato, em casa, num sítio qualquer,
quando se aprecia… quando se quer,
que belo safio, fanecas reluzentes,
olhos vidrados, escancarados,
no que, a peixes, concerne,
no dia… da promoção!!!...

… o tempo passa, desfia,
afronta, desafia,
cheiro nauseabundo, pestilento,
ali na banca do peixe… intento,
número que passa, lento, bem lento,
com senha na mão,
que bela caldeirada, bons pedaços,
polvos, caranguejos, caracóis e mariscos,
outros… mais congelados,
ali ao lado, pertinho do bacalhau,
serra que o corta em pedaços,
num zunido incomodativo, aflitivo,
o fiel amigo, inimigo… de salgado,
abstenho-me, não o desdenho, evito,
quantas receitas, quantos sabores,
quando devidamente preparado,
que regalo, doces odores,
receitas mais refinadas, só cozido,
depois de devidamente regado,
não é nada mau,
um pitéu mas… que escarcéu,
que barulheira se levantou,
algo, se me escapou,
enquanto pensava, como pantagruélico que sou,
não desmedido,
sem exageros… mais p´ró comedido!!!...

… a senha ia-se aproximando,
sem tão pouco me aperceber,
olhando, vendo, pensando,
sentindo o cheiro, não querendo entender,
apreciando e comparando
a garoupa, no que se poupa,
as postas de atum, de espadarte,
os bifes de cebolada, com que se arroupam,
quando se confeccionam,
com jeito, com arte,
quando se saboreiam,
se esquecem os maus bocados… ali passados,
quando se deglutem, bem acompanhados,
com vinho branco, gelado,
bebido aos poucos,
sem tragos enormes… ineficazes,
como loucos, vorazes!!!...

… o cheiro tresanda, emana, empesta,
parece dia de… festa!!!... Sherpas!!!...


22
Jul05

... parafraseando... o Aleixo!!!...

sherpas



… parafraseando o Aleixo,
que vai de mal a pior,
deixar arrastar, não deixo,
mas… espero, que isto melhore,
como gente vulgar, um entre tantos,
já não me vou com enganos,
farto me vou sentindo,
com tanta novela, tanto circo,
enquanto nos vão mentindo,
vou-me sentindo perdido,
vou deixando escapar a esperança,
a que se espera, a que se não alcança,
quando vejo certos pastéis,
reconvertidos, compungidos,
esquecendo a fase dos anéis,
hipócritas, mais que fingidos,
despesas enormes, absurdas,
de milhares de milhões,
fazendo orelhas surdas,
comprando submarinos e… aviões,
do alto do seu orgulho,
não olhando, sequer, para o entulho,
lixo avultado, posto de lado,
no meio de tantas confusões,
com grande… sentido de Estado!!!...

… não é meu jeito… fazer misturas,
trazer, para aqui, outras agruras,
políticas de má memória,
tão pouco falar de história,
de pais, de mães, de viagens,
de televisões, de viragens,
neste recanto de saberes,
biblioteca dos meus encantos,
repleta de variados seres,
selectos, com grande escol,
com poemas, buscas e desencantos,
citações raras, variados teres,
todo um extenso rol,
poliglotas, discretos, elevadíssimos,
consoante o momento, a criação,
de bacocos, de excelentíssimos,
indiferente, pura devoção,
entrega a esmo,
vaidade pessoal, convencimento,
vai dar tudo ao mesmo,
depois de escrito, puro intento,
algo se queda, dá conversa,
que varia, que se dispersa,
que se arrasta, muitas vezes,
provocando esclarecimento, a contento,
por vezes… às vezes!!!...

… que vai de mal a pior,
oxalá, isto melhore,
minha ambição desmedida,
sonhador bastante teimoso,
que insiste em escrevinhar,
duma forma, não contida,
sobre o feio, o péssimo, o formoso,
por aqui, em qualquer lugar,
sobre o que quer que seja,
alma inquieta, indomável,
parafraseando o Aleixo,
duras, dos calos que têm,
é bastante agradável,
tal como as côdeas de pão,
duras, mas sabem bem,
nesta memória que vos deixo,
gosto de apertar as mãos,
dos anónimos cidadãos,
deste País entristecido,
enganado… compungido!!!...

… sei que pareço um ladrão,
lá escrevia ele, sincero,
eu já não sei o que faça,
reforçava, com desenfado,
tal como faço, assim espero,
falando de tanta desgraça,
que, não parecendo o que são,
mais não escrevo, porque quero,
de enfado, que não mereço,
são aquilo que eu pareço,
seria, decerto… banqueiro
se se vendesse a desgraça,
possuidor de muito dinheiro,
enquanto um homem pensar,
que vale mais do que outro homem,
são como os cães a ladrar,
não deixam comer, não comem!!!...

… que vai de mal a pior,
pode ser que… o Mundo melhore,
parafraseando, com jeito,
o inesquecível… António Aleixo!!!... Sherpas!!!


21
Jul05

... passarinho inocente!!!...

sherpas
… comparativamente, passarinho inocente,
no meio de tanta aversão, perante tanto… falcão!!!...

… nossos medos, nossos fantasmas,
pensamentos bem guardados, quase esquecidos,
pecadilhos, maus tratos, pequenas falhas,
interiorizados, disfarçados… de tempos idos,
nossos segredos, muito íntimos,
que, com o passar dos anos, se esbatem,
se diluem, permanecem difusos, escondidos,
quanto mal nos fazem, quando lembrados,
quanto nos doem, quando recordados,
chagas vivas, não curadas,
feridas cruéis, dolorosas,
simplesmente disfarçadas,
bem presentes, purulentas, asquerosas,
manchas indeléveis, por vezes,
num percurso longo, onerosas,
quando paramos, às vezes,
quando tentamos compreender o passado,
certos percalços, acasos… mal cuidados,
quando intentamos justificar o recuado!!!...

… comparativamente, passarinho inocente,
no meio de tanta aversão, perante tanto… falcão!!!...


… embelezar o feio, enfeitar o ruim,
dar outros passos, já dados,
tapar buracos abertos, não fechados,
enfrentar fantasmas idos… perto do fim,
emendar a mão, dar sentido,
como lendo um livro, depois de lido!!!...

… comparativamente, passarinho inocente,
no meio de tanta aversão, perante tanto… falcão!!!...

… quantos zelos, quantos afagos,
quantos desvelos, quantos embaraços,
quando confrontados connosco, sem disfarces,
encarando nosso percurso,
nos vemos, tal como somos, não como fomos,
mais normalizados, menos vorazes,
neste descanso, neste purgatório,
avaliação de nós próprios, menos medonhos,
bem longe daquele envoltório,
disfarce assumido, máscara composta,
rosto de tudo que fomos capazes,
quando mais novos, audazes,
na luta, sem tréguas, pela sobrevivência,
carregando egoísmos, mentiras, vilanias,
com à vontade, com solvência,
os fazíamos, sem remorsos,
como normais, de todos os dias… como nossos!!!...

… comparativamente, passarinho inocente,
no meio de tanta aversão, perante tanto… falcão!!!...


… sobrepúnhamos nossos gostos, nossas manias,
impúnhamos vontades, escondíamos verdades,
compúnhamos enredos, escondíamos medos,
íamos em frente, com ciúmes, com zelos,
amávamos sem freio, tapando maldades,
fazendo de conta, como quem não receia,
vivendo a vida, como quem não planeia,
com sofreguidão, com gosto, paixão,
sendo como loucos… numa sofreguidão!!!...

… comparativamente, passarinho inocente,
no meio de tanta aversão, perante tanto… falcão!!!...

… quantos empurrões, quantos gestos não pensados,
quantas palavras mais agrestes,
quantas atitudes, imerecidas, quantos pecadilhos,
quando mais novos, descuidados,
procedendo como jovens, como filhos,
imbuídos de fúrias, de anseios… cometestes,
com danos a pais zelosos, compreensivos,
sofredores, protectores, compreensivos,
quantos amigos não rejeitaste,
por culpa de meros trastes,
quantas namoradas não utilizaste,
com enganos, com logros, namoros,
outros tempos, tempos idos,
amarguras, recalcamentos, choros,
fantasmas, medos, não esquecidos,
chagas, feridas… algumas purulentas, asquerosas,
lá no íntimo, sonegadas, ainda onerosas,
quando nos penitenciamos, pelo que fomos,
mais calmos, pensativos… tal como somos!!!...

… comparativamente, passarinho inocente,
no meio de tanta aversão, perante tanto… falcão!!!...

… embelezar o feio, enfeitar o ruim,
dar outros passos, já dados,
tapar buracos abertos, não fechados,
enfrentar fantasmas idos, perto do fim,
emendar a mão, dar sentido,
como lendo um livro… depois de lido!!!... Sherpas!!!...

19
Jul05

... fora do contexto... um pretexto!!!...

sherpas



… fora do contexto, por qualquer pretexto,
por vezes, sem objectivo preciso,
inicio e escrevo, quase sem nexo,
tento encontrar, procuro… impreciso,
como invisual que tacteia, indeciso,
como andorinha, fora da época, friorenta,
como gaivota, em terra, trôpega,
não adivinhadora, perturbadora, cinzenta,
como aquele pardal, sem ninho, aquela pega,
saltitante e voraz, à volta de carniça morta,
aquele drogado, débil, fraco, que se não aguenta,
como o indigente, de mão estendida, naquela porta,
como o Sol, escaldante… que nos afugenta,
como qualquer momento fugaz, repentino,
em cada lugar, em cada canto, em cada altura,
num mau estar permanente, ansioso, num desatino,
de quem, perdido e sem norte, procura
sossego, satisfação, encontro, numa palavra,
num pensamento, numa frase, num verso!!!...

… um complemento, uma entrega, uma jura,
teclas do computador, com que lavra
terra fecunda, em pousio, inverso
do que me gosta, me fortalece, me preenche,
nesta luta contínua que se trava,
com tudo que me satisfaz, me enche,
recordações, sonhos, estórias,
de vidas passadas, vividas agora,
quando, com gozo, deambulo pelas memórias,
quando lembro o recente, o dia de ontem, lá fora,
quando vislumbro felicidade, tristeza, bondade,
hecatombe, tragédia, maldade,
nesta apocalíptica humanidade, enormidade,
que avança, descuidada, bem longe da realidade,
para o além desconhecido, não precavido!!!...

… tal como invisual sôfrego, precipitado,
pardal saltitante, sem ninho, no beiral do telhado,
andorinha friorenta, fora do seu tempo,
futuro imprevisto, não acautelado,
quando escrevo, como pretexto, fora do contexto,
cambaleante, indeciso… quando intento,
quando busco, como uma pega, carniça morta,
carniça viva, alimento,
que me acalme esta fome cruel, esta vontade,
de lavrar o papel com palavras, com frases, com versos,
por vezes, bem longe da realidade,
com pensamentos dispersos, diversos!!!...

… sem motivo aparente, sem objectivo definido,
como que perdido,
me vou encontrando, quando escrevo,
sobre o que não vejo,
sobre o que sinto,
com palavras a eito, sem jeito,
confusas, fora do contexto,
bálsamo do espírito… simples pretexto!!!... Sherpas!!!...
19
Jul05

... aposentados... por direito próprio!!!...

sherpas



… férias permanentes, ausentes,
nas suas vidinhas, sempre presentes,
fugiram ao ritmo alucinante da labuta,
ficaram libertos, terminaram a luta,
deixaram o activo,
ficaram-se pelo passivo,
ao longo de décadas, desde que válidos,
com afazeres, hábitos,
numa correria incessante, sem tempo,
correndo atrás dele, intento,
do que foge, que nos larga, que se afasta,
fazendo-nos velhos, idosos,
mais pesados, mais pesarosos!!!...

… perdas insubstituíveis,
de familiares próximos, incríveis,
nossos progenitores, parentes mais chegados,
vamo-nos sentindo mais sozinhos, quase isolados,
em família mais curta, estranha, no início,
logo, volta ao princípio!!!...

… os valores, as referências… mudaram,
bateram-nos à porta, entraram,
agora, somos nós, os avós,
os mais velhos, os alquebrados,
passámos a ser a voz,
o conselho sábio, a advertência,
do alto da nossa excelência,
dos anos que fomos somando,
sem nos apercebermos, sequer,
quando trabalhando, trabalhando,
começámos… a envelhecer!!!...

… aposentados mas, com imaginação,
fruição da vida que nos rodeia,
maior disponibilidade, ilusão,
uma nova chama que se ateia,
outros objectivos, outros destinos,
outros amores, desafios permanentes,
com problemas muito nossos, intestinos,
doenças próprias das velhas gentes,
tensão arterial mais controlada,
alimentação mais vigiada,
outros sabores, mais juízo no proceder,
sem excessos, mais cautelosos, por querer,
o colesterol, calamidade que nos afecta,
mais pastilha, menos cápsula… uma injecção,
uma viagem que se projecta!!!...

… um sorriso, um afago, um coração,
um neto, uma neta, um casamento,
maior compreensão,
outra perspectiva… de gente viva,
aposentados, por direito próprio,
com um futuro que se alonga, que se aviva,
não um opróbrio,
uma outra vida!!!... Sherpas!!!...
18
Jul05

... desta vez, Spielberg... não foi Merlim!!!...

sherpas



… não sei, fui ver e… não gostei,
sempre me deixei embalar pelo Spielberg,
pela sua imaginação, sempre adorei,
considero-o soberbo, espécie de Merlim,
na nossa época, da fantasia, da ficção,
da realidade que, para mim,
anda muito perto da ilusão,
como sonhador assumido,
sentindo-me bem comigo,
neste Mundo que consigo,
tão pertinho, tão unido,
fazendo parte integrante,
deste meu ser inquieto,
tão complexo, tão diverso,
quando me adentro e penso,
que me maravilho e espanto,
com coisas doutro…Universo,
inatingíveis, por enquanto,
simples desejos, ainda sonhos,
de que não dispomos!!!...

… apesar da idade que carrego,
quando a isso me entrego,
retrocedo décadas e décadas,
sorrio, embevecido,
numa das últimas filas, recuadas,
olhando o filme projectado,
no início, ainda ilusionado,
à medida que o tempo passa,
caio em mim, não acho graça,
invectivo o tempo gasto,
saio desiludido, compungido,
recrimino-me, enquanto me afasto!!!...

… conheço a obra, li-a há muito,
a Guerra dos Mundos,
quanto me aterrorizou, essa leitura,
no que nos futura,
pavor descontrolado, colectivo,
perseguição, destruição do que é vivo,
sobreposição dum ser diferente, inexistente,
avançado na tecnologia, dependente,
sugador de sangue, de gente,
histeria, fuga, ruína total,
final sangrento, hecatombe geral,
conseguido, através das imagens,
pelo que vi, pelo que senti,
embora confesse, não negue,
ficou muito aquém,
pelo que conheço do génio,
podia ir mais além,
naquela visão, naquele inferno,
Spielberg parou, por mim falo,
quando escrevo, porque não calo,
não mexeu comigo, desiludiu,
pelo que vi… pelo que se viu!!!...

… desta vez, não foi Merlim,
não foi impulsionador de sonhos,
não me senti arrebatado, falo por mim,
ali, sentado, onde nos pomos,
nas filas dum cinema qualquer,
como gente que quer,
fugir da realidade, ao longo de duas horas,
vivendo vidas, devorando estórias,
imersos na penumbra, nas sombras,
perante imagens, memórias,
criação de artistas consagrados,
produtores, directores, actores,
levados, transportados,
por esses fazedores,
para o futuro, para o passado,
indolente, olhos abertos, mente desperta,
voando por tanto lado,
imaginação que nos alerta,
numa sala de cinema… concreta, aberta!!!...

… fui ver e, não gostei,
desta vez, Spielberg… não foi Merlim,
falo do que sei,
escrevo e penso, por mim!!!... Sherpas!!!...


16
Jul05

... gosto mais de... coisas bonitas!!!...

sherpas



… esticar o corpo, espairecer o espírito,
passear contigo, olhar em frente,
dar um riso, soltar uma palavra, um grito,
correr, saltar, estar feliz, contente,
gozar o momento, a hora, o minuto,
ser um rapazola, um puto,
folgazão, inocente,
sentir-me gente,
apreciar uma rosa, um pássaro, uma árvore,
sentir o sol na pele,
uma doce brisa, um odor,
sabor de mil apetências,
maravilhas de tanta flor,
pétalas humedecidas pelo orvalho,
multicores, sem mácula, viçosas,
nelas me regalo,
minhas prendas preciosas,
natureza plena e bela,
não há outra, como ela,
neste Mundo, neste Universo,
neste verso, sem retrocesso,
sem caos, ordenado, calculado,
com sistema perfeito, ao jeito,
do homem, como homem, como santo,
físico, intelecto… um encanto!!!...

… estar contigo, dar uma volta,
com a vontade à solta,
desbragado mas… com sentido,
obrigado, convencido,
pela vida que mantenho, agradecido,
satisfação plena pelo que vejo,
pelo que sinto, pelo que almejo,
quando antevejo, num reflexo da mente,
num recanto escondido,
débil esperança, ainda presente,
que se avoluma, que se incorpora,
um sopro, um gemido,
algo que se agita, que vem de fora,
que nos anima, nos acalenta,
que nos embala, que nos aguenta!!!...

… degradação total,
inverdade, caos provocado,
Mundos distantes, galáxia mistério,
proximidade, lamaçal,
sóis dispersos e diversos,
dias sem luz, noites vazias,
Universo acabado,
tão longe, tão perto, um cemitério,
cloaca imensa, dor abrangente,
doença alastrada,
vida sem nada,
objectivo final, para nosso mal,
Terra sem cor,
um grande horror,
morte e miséria, que perdure a guerra,
ratos e vírus, homens e feras,
nesta, naquelas esferas,
o que se espalha, o que se difunde,
quando se mata, quando se destrói,
tudo, que… nos dói,
natureza impoluta, vetusta, benéfica,
perfeita, estética,
tão degradada,
transformada… em nada!!!...

… quero rir, quero passear,
quero fugir, quero saltar,
quero viver, usufruir, gozar como criança,
ainda com esperança,
dar uma volta contigo,
olhar, bem fundo, todas as coisas,
maravilhar-me, outra vez,
sentir-me de bem, comigo,
uma e… outra vez!!!... Sherpas!!!...





15
Jul05

... a pedido... meu amigo!!!...

sherpas


… parasita ínfimo, tão enorme,
perturbador assumido,
provocador de morticínio, de fome,
bicho careta, convencido,
perscrutador, investigador,
sábio, sem conhecimento,
filósofo, sem filosofia,
bafiento, acumulador,
miséria, morte, dor,
flores murchas, gastas,
valias raras,
num Mundo confuso,
Universo, adverso,
controverso,
a pedido, meu amigo,
mais me custa,
não se ajusta!!!...


… Sol que se espelha,
raivoso, energético,
vidas que se consomem,
num caos permanente,
existente,
tendo como lema,
um sistema, patético,
dos que, por via da energia,
acumulada numa partícula,
força conjugada, que… descontrolada,
mal conhecida, um dia,
pode causar tanta razia,
a pedido, meu amigo,
não consigo,
mais me custa,
dor imensa… nesta luta!!!...


… cloaca imensa se destapa,
se vaporiza,
bichos, feras, ratos e vírus,
sem futuro nenhum,
num planeta gémeo, bem perto,
a uns milhares de anos-luz,
local incerto,
com três ou quatro luas,
dias permanentes, efervescentes,
com mortos renascidos,
reincarnados,
reluzentes,
policromáticos, biónicos,
máquinas, homens, heterónimos,
segunda pele, decomposta,
corrompida na sua génese,
a pedido, meu amigo,
não lobrigo,
mais me custa,
quase assusta!!!...


… origem pós atómica,
resto, vómito, simples posta,
pirueta, reviravolta cromática,
apóstata,
não crente… indecente,
inverso, no colorido,
aberrante grito, lancinante, sofrido,
caos produzido,
sem sentido,
a pedido, meu amigo,
mais me custa,
quase… assombra, esta justa!!!... Sherpas!!!...

15
Jul05

... quando se vai... a lembrança!!!...

sherpas






… pequenas coisas, saudades imensas,
quando paras, quando pensas,
quando olhas, com tristeza,
todo o tempo que passou,
quando sentes, com ternura,
o que foste, como foi,
quando tentas agarrar,
o que te não pertence, escapou,
quanto nos amarga, quanto nos dói,
este preâmbulo, esta penumbra,
quando te falha a memória,
quando não recordas a estória,
o episódio marcante,
falha natural, não aceite,
coisa que dói, revoltante,
quando se rebusca, na mente,
nos sentimos impotentes,
débeis, esquecidos, inocentes,
como volúvel e fraca gente,
neste rodopio infernal,
espiral vertiginosa,
passagem fortuita, banal,
de criatura singular,
pouco segura… não formosa,
tal Leonor, esbelta, graciosa,
ágil, jovem ainda,
alvo de amores projectados,
de poetas enamorados,
no final… das nossas vidas!!!...

… não venhas tarde, cantava,
com voz maviosa, pausada,
um pouco rouca, sem esforço,
fadista do meu passado,
já entradote, colosso,
que eu apreciava, pela pose, comportamento,
pelo poema que entoava,
pelo que, quando cantado, lhe punha de sentimento,
pelo tom de voz que dava,
quando cantava… que encantava,
não esqueço, nem um momento,
a nossa Hermínia, a das tabuinhas,
naquelas casinhas,
as da Mariquinhas,
com sorrisos, requebros,
entremeando seus versos,
com ditos espirituosos,
ela, com o seu Pacheco,
quando cigana, nos filmes,
rezando sinas, rogando pragas,
ainda, em mim, fazem eco,
essas imagens humildes,
do cinema feito nas fragas,
nos campos de outros tempos,
sem maldades, sem excessos,
mais humanos… menos perversos!!!...

… na Coimbra dos meus amores,
do Mondego, do choupal,
quantas moçoilas, quantas flores,
quanta juventude cantada,
quanto fado esganiçado, notas arrastadas,
paixões descontroladas,
numa escadaria qualquer, numa rua estreitinha,
junto de tantas amadas,
quantas e quantas serenatas,
na tua cidade, na minha,
guia mor, romaria,
ilusória fantasia,
da mocidade perdida,
desta idade que avança,
que se não condói, que nos mói,
quando nos vai… a lembrança!!!...

… quanto gostaria de reter,
de manter, em mim, a recordação,
bem viva, jamais esquecida,
como um haver, como um ter,
pessoal, muito meu, avarento convicto,
de saberes, de conhecimentos,
sujeito a esquecimentos,
memória curta,
com a idade, se nos encurta,
facto passível de acontecer,
sem eu querer, sem crer,
inevitável, não evitável,
consequência execrável,
de quem muito gosta, de quem muito quer,
de quem guarda no peito, perto do coração,
sempre ao jeito, bem guardado, retido,
tantos seres, tantos factos acontecidos,
como memória muito própria,
embrulhados num envoltório,
resguardados, muito queridos,
que se lhe escapam,
desse cofre forte de emoções,
de fantasmas… de ilusões,
quando se não acautelam, passam,
por vezes… às vezes!!!... Sherpas!!!...


13
Jul05

... ciganos de antes... de agora!!!...

sherpas


… raça nómada, deslocada, em permanência,
em tempos muito afastados, na minha infância,
excluída de modo próprio, com intenção, solvência,
com carroças, com burricos, percorrendo distância,
lonjura, comendo caminhos, sem pressa… mais promessa,
de quem, com o pouco que tem, se sente bem,
ciganos de então, grupo mínimo, arreigado
em terras de ninguém, de pousio,
pertinho da localidade, sem mistura,
mão que estende, pedincha, sem pio,
com cara pesarosa, sofredora, amargura,
quando muito… uma sina, palavreado a eito,
dando no cravo, na ferradura, ao jeito,
um que outro trabalho, sem custo, ocasional,
negociata de burro, de cavalo, palpite,
engano com desengano, puro despiste,
aperto de mão, piscadela de olho, casual,
coroas que se ganham, modo fácil,
sem suores, sem custo, muito hábil,
raça orgulhosa, etnia diferente, ciosa,
muito própria, desconfiada, mansa e raivosa,
por vezes, por ciúmes, por mortes, quezílias,
entre eles, com outros… entre famílias!!!...

… a origem, duvidosa, provável,
da longínqua Índia, da Roménia, dispersa,
características semelhantes, mantidas,
com língua arrevesada, louvável,
com traços que não nega, conversa,
muita lábia, sabedoria de muitas vidas,
amor aos filhos, inaudito, elevado,
casamentos, dentro do mesmo bando,
com exclusão, sem permissão, aversão,
desde que os conheço, que os entendo,
desde pequeno, na minha terra, pois então,
o cigano, aquele figurão… mau e tremendo,
pavor de miúdos, finca pé de graúdos,
aproveitador, espécie de malfeitor,
sempre à margem, na tenda, no campo,
com tendas, com burros, outros mundos,
leitor de sinas, senhor dele, autor,
espinha direita, nobre, orgulhoso, um espanto!!!...

… cigano ou cigana, tal a sina, tal a manha,
com mãos e palmas, com pés, com danças,
com cantares lamurientos, chorosos, penosos,
avinhados, por vezes… com sanha,
comeres parcos, noites escuras, nos campos,
famílias inteiras, unidas, sem terra,
agora, por aqui, amanhã… logo se vê,
não há mal que os emperre, excluídos, em guerra,
confronto pacífico, como quem crê
numa filosofia diferente, outra sina,
bem separada, com pouco, com quase nada,
noutros tempos, da minha vida!!!...

… continuam com costumes idênticos, no proceder,
quanto ao respeito pelos velhos, ao amor pelos filhos,
quanto ao casamento, como deve ser,
dentro do grupo, cigano, com cigana, prometidos,
desde cedo, desde pequeninos,
quanto a negócios, já se não vão com burros,
tornaram-se ricos, tornaram-se finos,
fazem mercados, de tudo vendem, tudo compram,
seja correcto ou contrafactado, tudo trocam,
muito mais barato, mais rentável,
rendidos ao dinheiro, fiéis adoradores,
cresceram nas posses, variável
a atitude, fizeram-se senhores,
donos absolutos da venda ambulante,
orgulhosos, como sempre, etnia apartada,
já vivem em casas, já são extravagantes,
nas festas, nos automóveis, na vida airada,
com hábitos próprios, mantendo a tradição,
como estilo, mais abastados, com exclusão,
por quererem… como opção!!!... Sherpas!!!...
13
Jul05

... até às tantas... com fados!!!...

sherpas


… parece ter sido ontem, a jantarada,
éramos bastantes, mais jovens em idade, em número,
num dia comemorativo, despedida, pretexto… nada,
não sei bem qual a razão, indiferente, o género,
solteiros, casados, homens, mulheres,
num local determinado, restaurante com quintalão,
numa noite quente, de Verão,
união na vontade, nos quereres,
na hora aprazada, lá estávamos,
comemos, bebemos, rimos… por tudo, por nada,
o tempo foi passando, falámos, recordámos,
o jantar foi quase banquete, sem fim, sem término,
arrastou-se até às tantas, entrou pela madrugada,
cá fora, naquele espaço, no quintalão, estava fresquinho!!!...


… alguém se lembrou duns amigos, foliões e fadistas,
vai daí, num repente, numa decisão súbita,
agarrou no carro, foi buscá-los… aos artistas,
sem apresentação prévia, surgiram à vista,
ar de gingões, com guitarras, sorridentes,
habituados que estavam àqueles eventos,
dedilharam uns acordes, afinaram as vozes, contentes,
deram um ar de mistério, com os seus acordes, momentos,
ficámos parados, com os copos nas mãos, pensativos, atentos,
tudo mudou, interiorizámos, calados,
fomos ouvindo fados lânguidos, arrastados,
letras já conhecidas, entoadas por todos, baixinho,
unidos no sentimento, no fado, na canção,
éramos tantos, bebericando cerveja, provando o vinho,
esquecido o jantar, já banquete… de prolongado!!!...


… horas mortas, não perdidas, no quintalão,
magia no ar, comunhão plena por todo o lado,
olhares embevecidos, já esquecidos… conduzidos,
pelos acordes, pelos fados, pelos artistas,
grandes, completos fadistas,
com reportório vasto, bem produzidos,
alentejanos dos sete costados,
duma aldeia próxima, ali ao lado,
nestas andanças, mais que habituados,
veio o passarinho, às tantas da madrugada,
outras modas mais brejeiras, cantares nossos, lamentos,
todos juntos, em uníssono, de improviso… uma desgarrada!!!...


… o tempo ia passando, noite mais aprazível, mais frescos,
brisas saborosas, agradáveis, no meio de tanta gargalhada,
com fados, com cantares alentejanos, depois da jantarada,
do banquete, pela idade, pelo número, pelas comidas e bebidas,
horas sentidas, bem vividas… não perdidas, nunca esquecidas!!!... Sherpas!!!...
12
Jul05

... fados!!!...

sherpas

… tanto se tem falado sobre fado,

tanto se tem cantado... por tanto lado,

sempre foi choro, lamento, destino,

mais picado, repicado,… um desatino,

DSC09841

música brejeira, de pasmar,

quantos o cantaram, por amor, com sentimento,

musas de antanho, fadistas com jeito,

que bem o souberam entoar...

 

notas soltas, arrastadas, ao despique,

enlevo, dor profunda, cá de dentro, canção nacional,

sem defeito, engrandecida pelo Marceneiro, pela Severa, pela Dona Amália,

 

fado corrido, da Mouraria... fado menor, fado canalha, fado gingão,

fado dinheiro, fado embuçado, da fidalguia, fado torcido, fado avinhado, um pormenor,

 

fado Lisboa, cantado à toa,

fado Coimbra, fado boémio... fado maior!!!... …

 

fado sentido, fado triste, de embalar,

fado guitarra... com alma, com garra,

fado da noite, fado de cantar, fado dos copos... fado da farra,

 

fado destino, fado velhinho, fado saudade,

quanta vileza, quanta verdade...

quanta partida, na hora da despedida,

 

fado desgosto, lacuna, realidade, fado dum Povo, que chora

…cantando, fado fadista... arrivista, louco, fado de artista,

que zomba, sonhando, com tudo,… um pouco!!!... Sherpas!!!...

10
Jul05

... saltitante, tendeiro... feirante!!!...

sherpas
… espécie de procissão, quanto a comportamento,
uns, atrás de outros, diligentes,
por entre filas de tendas, aldeamento,
vendedores de roupas, de sapatos, ingredientes,
chamariz para tanta gente,
dia de mercado, de mercadilho, momentâneo,
igual, em Portugal, expontâneo,
tal como no País vizinho, instantâneo,
desde o alvor, o romper do dia, com carros e carretas,
furgões repletos de mercadorias,
então, ripam dos ferros, das ferramentas,
estendem panos, engendram mesas expositoras,
satisfeitos, sorridentes, manifestando alegrias,
falando alto, enquanto montam as tendas,
arrumadas, umas às outras, sedutoras,
com produtos diversos, apelativos,
doçarias, refrescos, frutas de mercado,
cassetes de música, de vídeo, DVD,s, livros,
profusão de coisas vendáveis, por todo o lado,
últimos preparativos!!!...


… os presumíveis clientes começam a aparecer,
num repente, o desfile, espécie de procissão,
aumenta, enche o espaço… começa a crescer,
tudo tocam, tudo olham, tudo apalpam,
colocam em frente dos olhos, viram, reviram,
perguntam o preço, rejeitam, não compram,
passam para outra tenda, baixam, inclinam,
apanham, mostram, declinam,
vão andando, mais atraídos, pouco convencidos,
por palavras, por preços deitados ao alto,
no meio de guinchos, de berros, de gritos,
pelos vendedores, artistas convictos, desgarrados,
num despique são, fraterno, com os parceiros dos lados,
meio loucos, meio sérios… insolentes, por vezes,
vida dura, oportunidades, revezes,
sem intenção, brincalhões chocarreiros,
por negócios, por dinheiros!!!...


… sabem que o dia passa, que o sol vai apertando,
que o calor aumenta, que as pessoas se vão embora,
insistem, teimando, não largando,
conseguindo uma venda, duas ou três, na hora,
no mercado, no mercadilho,
iguais na forma, no feitio, no espaço, no negócio,
tendas que se multiplicam, que formam ruas,
repletas de gentes, diligentes… em profusão,
num dia feriado, num domingo, num dia de ócio,
tal qual uma procissão,
enlevo, quando se vende, quando se compra,
uma peça, mais do que uma… duas,
quando, preço de jeito, se encontra,
satisfeita, na certa, a sua função,
no mercadilho ou no mercado,
em Portugal ou no outro lado,
iguais, não se distinguem estas gentes,
as que vendem, as que compram,
as que se enfrentam, quando se afrontam,
numa mescla confusa, buliçosa,
num dia qualquer, manhã diferente… formosa,
vida difícil, quando mais tarde, se completa,
numa troca constante, enérgica, gritante,
luta pela sobrevivência, repleta,
de saltitante, tendeiro, feirante!!!... Sherpas!!!...

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