deixam a terra, largam os amigos, encolhem os ombros, fingem que não, vão em frente, por uma razão, não têm emprego, foram despedidos, sentem-se vazios, inúteis, sem objectivos, de mãos nos bolsos, bem pensativos, sem rumo certo, gastando o tempo, dias que seguem, sucedem, frios, sombrios, lúgubres, medonhos, com pesadelos no lugar dos sonhos!!!...
desassossego, inquietação, quanta ilusão desfeita, ruína total, dores de cabeça, insónias, fome, não é vida para um homem, sem ganha pão, que aflição, futuro dos filhos, eis a questão, renda por pagar, prestação, entre muitas outras coisas, afinal, mulher no desemprego, desempregado, dois filhos por criar, uma mão cheia de nada, um descalabro, insegurança, falta de esperança, um amanhã nada risonho, quando os vejo, me envergonho, nada se tem, nada se alcança, quiçá em França, ou noutra terra, quem sabe, a Inglaterra, nesta Espanha, aqui ao pé, vamos ver como é!!!...
num dia qualquer, depois de bem pensar, com uma simples trouxa, simples haveres, alguns teres, pouco dinheiro, algum emprestado, fez-se ao caminho, abandonou o seu cantinho, em busca do seu destino, à procura dum trabalho, porque, pensava, ainda valho, tem toda uma vida pela frente, em casa, muita gente, a família, mulher e filhos, quantos cadilhos, fez-se emigrante!!!...
tal como dantes, a vida não está fácil, já se não perspectiva, ainda se acha ágil, com energia suficiente, uma vida activa, bem precisa, dinheiro que lhe baste, que lhe chegue, que o afague, que fortaleça seu ser, um início, um recomeço, algo que se lhe pegue, que lhe atice seu querer, porque, não esqueço, penso por mim, homem, sem trabalho, não pega, não leva a lado nenhum, é mais um, sem importância, pouca coisa, sombra triste dum passado, rasto indelével apagado!!!... Sherpas!!!...
zangado se mostra, lá fora, quando assobia, quando sopra, enfurecido, molhado, manhã cinzenta, chuvosa, pessoas incertas, casas sombrias, janelas cerradas, ruas vazias, conchego dos lares, vento que rola, chuva que cai, barulho constante, mendigo escondido, num portal qualquer, figura que aflige, caricatura, trapo, vida ruinosa, que se encolhe, que se evola, ideias paradas, uma cruz, um penar, espelho ultrajante, que esquece, não quer, quanto sofrer, quanta amargura, manhã de Outono, tudo molhado, princípio que se espera, duro, cruel, mortífero, para o desamparado, sem eira, nem beira, indigente, pobre só, consigo!!!...
cantilena, áspera, sonante, rola o vento, caustica o desgraçado, espalha gotas frias da chuva, numa dança tétrica, crua, tornando o quadro degradante, ali no portal, andrajoso, tolhido, pela intempérie, pelo frio, quanto se reduz, molhado, quase porta, quase portal, simples ponto final, escasso acidente, mero mortal, abandono, desamparo, incúria, vento que soa, que uiva, água que o inunda, quanto se afunda, abrigo reduzido, mero amparo, rua vazia, deserta, portas fechadas, janelas bem cerradas, casas sombrias, portas sem alma casas vazias!!!...
ficou a imagem, ficou a dor, num passo apressado, alguém abrigado, no seu abafo, no guarda-chuva, moeda que dá, qual desculpa, sentindo, partilhando o pavor, tempo que vem, chuva que cai, frio presente, posto de lado, réstia, sobra, escumalha, humanidade esquecida, vento que uiva, partilha sem dádiva, sem amor, gesto, sobra, moeda, simples tralha, indigente que queda, sem abrigo, com frio, todo molhado, isolado sem pio, amostra de gente, humilhação dos aconchegados, casas sem alma, janelas cerradas, mal abrigados. portas fechadas!!!... Sherpas!!!
ninguém gosta, está provado, todos detestam, não consentem, mesmo os postos de lado, os que querem, pretendem, sair dos guettos que os acolhem, desde pequenos, já quase homens, naqueles antros que os consomem, sendo tratados como escória, disso nos reza a história, quando se quer, se tem fome, de conhecimentos, de eventos, de prazeres, de momentos, como seres humanos que são, embora doutra condição!!!...
sem dinheiros, sem espaventos, tratados abaixo de cão, como lixos, como borras, com raivas gritos, choros, provocando tumultos, refregas, enfrentando o estabelecido, levando sempre consigo, um sonho, uma esperança, miragem que se não alcança, querendo liberdade inteira, responsável, verdadeira, um emprego, segurança, deixando de ser escumalha, qualquer espécie de tralha, resíduo, refugo, ralé, incluídos, como os outros, sem serem de trapo no pé!!!...
apontados, por quem nomeia, por quem, com palavra, incendeia, ódios, recalcamentos, frustrações, tanta quebra de ilusões, provocando instabilidade, guerra civil, incomodidade, alterando a pacatez, ultrapassando a sensatez, numa adversidade perversa, não fraterna, tão avessa, pouco igual, tão diferente, do fraco, do pesporrente, tão iguais como gente!!!... Sherpas!!!...
saí de casa pela manhã, era cedo, chovia, há quanto tempo a não sentia no rosto, não, não me vou pôr a cantar de alegria, dançando, de guarda-chuva aberto, bem disposto, qual Gene Kelly moderno, mais actual, era caso para isso, bom sinal, pela secura passada, pelas agruras sofridas, pelo Sol inclemente, permanente, que teimou, que tanto nos preocupou, num bom tempo aparente, seco e árido, agreste, que se arrastou, secando fontes, barragens, queimando pastos, florestas imagens, desconsolo, tristeza de campestre, de parcos haveres, de poucos teres, de gente humilde, bem sofrida, quantas vezes esquecida!!!...
bendita chuva caída, esperança, terras ressequidas, gulosas, sôfregas, outra porta que se abre, ciclo que se quebra, tempo Outonal, que avança, sentimento que nos afaga, que nos consola, outras lutas na vida, labutas, refregas, quando a sinto na cara, se enfrenta, molhado, agradecido, não cantando, não dançando, espargindo sorrisos, correndo, sob o guarda-chuva, protegido, recordando tempo mais húmido, chuvadas passadas, farturas, pensamentos que trago comigo, numa harmonia perfeita, sem agruras, sem aquecimento global, grande mal, sem irracionalidades economicistas, sem tumultos, sem belicistas, numa natureza mais natural, menos poluída, não destroçada, não vilipendiada, pouco esburacada, por matérias orgânicas, ganâncias, de alguns figurões extravagâncias!!!...
quanto de mim canta, encanta, quanto de mim dança, não dançando, quanto de mim sorri, sorrindo, quando me molho, por querer, líquido precioso, bem-vindo, doce quadro, digno de se viver, de ver, pausa duma praga, que se esquece, calor, sol, chamas, pavor, tudo passa, sofrimento e dor, tudo se espera, se aguarda, mal que fica, que se repara, outros olhos fitam e gritam, almejam tempos diferentes, sonhos que se aglomeram, agitam, quando, pingando te sentes, não dançando, não cantando, sorrindo à chuva, que me assenta que nem uma luva!!!... Sherpas!!!...
já não há poesia pelos ares, todos os sonhos se esvanecem, vindas, sobrevoando, doutros lares, estarrecem, amedrontam, não se querem, migram, lá vêm quantas aves, quantos vírus que transportam, não se matam, não importam, evitam-se, afugentam-se, analisam-se, depois de mortas, espadas que apontam, que caem, que batem a tantas portas, quando, esgotadas, se esvaem, fenecem, bem longe, aqui ao pé, numa loucura que se espalha, numa fúria, numa maldição, numa fé, numa esperança que nos valha, que se pede, se deseja, se mantém, não querendo o que vem, aves idílicas que voam, que consomem distâncias enormes, que morrem, que não perdoam, uma assinatura, muitas mortes, vírus que se conhecem, que se não querem, venham lá, donde vierem, já não há poesia, pelos ares, quando se deslocam as aves!!!...
já não há poesia pelos ares, há ameaça, há morte que se transporta, quanta beleza, quanta pena, quantas aves, a vida, é o que mais importa, migrações cíclicas, continuadas, pouco desejadas, evitadas, receios fundados, factos reais, ficamo-nos pelos nossos, pelos pardais, pelos domésticos, menos daninhos, aves de gaiola, de capoeira, bem resguardados, comezinhos, sem misturas, sem eira nem beira, à solta pelos campos, chilreando, sujeitos a bandos compactos, a estranhos que chegam, se misturam, que migram, que se deslocam, como gaivotas, gansos e patos, quando mudam, quando procuram, quando passam, quando provocam, quando voam pelos ares, numa poesia passada, bandos de aves, ameaça latente, terror, pânico de tanta gente!!!...
era um encanto, doce visão, poesia concreta, bandos que são, lagos, lagoas, marinhas, sapais, tantos, diferentes, muitos iguais, visitantes bem recebidos, por vezes, com tiros, sangrentos que são, caçadores que matam, desporto lhe chamam, quando defendem, aclamam, gostos, sem gosto, perversão, profunda aversão, assim o sinto, quando os escrevo, quando os mostro, os descrevo, na atitude, sem gozo, uma explosão, chumbo que evola, que fere, que trucida, um pombo, um pato, uma rola, que desfaz um sonho, uma vida, um poema vivo, poema que voa, agora, ameaça vírus que transporta, que se não quer, que se não importa!!!... Sherpas!!!...
mas que graça, fica, não passa, com a sua leveza, bendita, formosa, leve, quando pisa, um ar de rosmaninho, doce perfume, se queda pelo caminho, deleite, é costume, quando a vejo, adivinho, quando passa, leve, sorrindo, antevejo, outra graça, que me é cara, bem a lembro, noutro tempo, muito meu, escondido, não esquecido!!!...
memória que permanece, que me aquece, que me assola, num momento, que me consola, noutro tempo, com tanta graça, como esta que passa, formosa, não segura, como dizia o poeta, bom esteta, na altura, tempo mais distante, naquele instante, naquele toque, sinal, aviso, ainda estou vivo, reboliço que me abrasa, quase choque, quando passa!!!...
repetição incontida, tão sentida, quando a vejo, não desejo, lembrança dum passado, perfume que espalha, ali ao lado, pelo caminho, que mal toca, quando anda levemente, que mal se sente, sorrindo, espalhando, recordação intermitente, indefinida, doutra vida, encantando!!!... Sherpas!!!...
quando o vejo, ali à beirinha do Tejo, um velho, sentado num banco, imóvel, olhar perdido, esquecido, pele enrugada, cabelo ralo, cinzento claro, logo se me aguça o pensamento, antevejo, uma longa estória, um pedaço esquecido, uma lacuna, memória parada, quase em branco, quando o olho, quando paro, logo me seguro, não avanço, não pretendo inquietar quem pensa, observo, como quem tenta, meter paleio, fazer conversa, hesito, não persisto desisto!!!...
como quem revive, como num filme, dentro dum corpo envelhecido, tantos amores, tantos furores, tantas paixões, tantas dores, numa pausa do caminho, sentado, olhar vago, parado, encanecido, sossegado, ali ao lado do Tejo, quando paro quando o vejo, assim o penso!!!...
antevejo toda uma vida, esquecida, parada num banco, memória em branco, espreitando um raio de sol, olhando as águas que se agitam, mal diminuto, mal menor, ser agastado, sem ver, parado, naqueles olhos que fitam, naquelas mãos que tremem, que pouco mexem, que pouco sentem, memórias que o perseguem, ali sentado, enquanto o vejo, num banco à beirinha do Tejo!!!...
vontade imensa me assola, não me consola, persegue, atormenta, de quem pretende, de quem intenta, descortinar um pouco, avassalar, aquele templo, aquele Mundo, aquela vida, aquela muralha, ali sentada, trémula, que se cala, de olhar vago, bem profundo, isolada, branca, envelhecida, grandiosa, na fragilidade que ostenta, ali parada ali esquecida!!!...
por ali fico, por ali me quedo, embevecido, boquiaberto, conjecturando pensamentos, fazendo imagens, provocando cenários, tantos, tão vários, tendo, como tema, naquele instante, naquela pausa, aquela sombra, aquela cena, aquela vida, enquanto a vejo, enquanto a penso juntinha ao Tejo!!!... Sherpas!!!...