... a arte... em qualquer parte!!!...
… já foi arbusto débil, vergado ao vento,
cresceu, robusteceu, fez-se árvore de vulto,
sombra agradável, recanto, entretenimento,
deu frutos, filhos das entranhas,
magia, encantamento,
alimentou sonhos doutros, fez-se navio,
foi amargura, cruz de sofrimento,
foi gemido, foi sangue, foi castigo,
foi casa, foi abrigo,
com artes, mãos hábeis, muitas manhas,
fizeram o que quiseram,
a tudo se sujeitou,
quantas intempéries enfrentou
por todas as partes deste mundo,
foi ao largo, foi ao fundo,
com outras irmãs suas, bem unidas,
desagregou, pedaço a pedaço,
deixou de ser casco,
atirado para praia deserta, areal desconhecido,
sem um grito,
para ali esteve,
remoeu tudo que foi, aguentou sol, chuva,
lenho já carcomido,
lambido por maré viva que alivia dores,
sentiu-se acariciado,
elevado,
tronco que bóia, que não esquece,
voga de novo, sendo tudo, num mar encapelado,
revigorado,
embora gasto, deformado,
mais uma vez arrojado,
escultor que passa, que admira,
imagina
agarra aquele cepo, revira-o embevecido,
alguns toques não desfazendo,
mantendo,
expõe em salão pejado de gente,
que bem o sente,
não está carcomido, foi trabalhado pelo mar, pelo vento,
como em qualquer parte,
deixou de ser, já não se lembra de ser árvore,
intensa peça de arte,
já não é castigo, amargura, objecto vulgar,
rara preciosidade, tronco seco… resto do mar!!!... Sherpas!!!...