... toco nos céus que me cobrem, desvio nuvens cinzentas, alteio pensamentos que me tolhem,
assombro Deuses, Deusas, agarro num Sol portentoso, desloco-o, devagarinho,
encaminho raios brilhantes, ilumino paisagens, recantos, alegro seres pequeninos,
dou-lhes calor, carinho, torno tudo mais formoso,
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aves penugentas no ninho, disfarço obscuridades tenebrosas,
cenas de guerra horrorosas...
sinto-me bem, engrandecido, tocando os céus que me cobrem,
abrigando os que mais sofrem,
papel difícil, custoso, tarefa árdua que me proponho, ergo a mão, pensamento,
toco no sonho,
transformo o momento...
impávido, sinto-me dono de tudo, qual enormidade que se eriça,
passeia, modifica, compõe a seu modo, no limbo,
profunda moradia dos Deuses, harmonia que busca, poderes que detém,
mais aquém...
quando pinta com palavras que contém,
páginas brancas de desdém, cometimentos infinitos,
palavras, sons, gritos...
desvios prodigiosos, grandiosos, não próprios dos vulgares,
nos locais, nos lugares,
sorrindo, rindo descontrolado, controlando com espanto,
ambiente, elementos,
puxando o Sol, devagarinho, afastando sombras, chuvas, ventos,
afagando... semeando carinho,
arrumando Paraísos,
bem precisos...
compondo o decomposto, com gosto, perfeito, presente que sente,
como gente inocente,
dando manta, abrigo ao indigente que dorme abandonado,
num vão duma casa apalaçada, tão só, maltratado,
fuga dos olhos que passam, não olham, cerram pálpebras, fingem,
não distinguem...
colunas queimadas dum templo, marcas que perduram, duram, gritam lancinantes,
figuras de santos desfigurados...
mãos estendidas, vazias, em tantos lados,
sussurros, vozes com dialectos distintos, luminosidade que se intensifica, queima,
teima...
isola quando pede esmola, cão que late, acordeão que entoa música popular, cego que toca,
volteia o tronco, a cabeça com olhos que não vêem, dedos ágeis, caixa que pede,
casa velha que se ergue,
mantém... sustém,
cânticos gregorianos que se repetem, soam,
entoam...
nuvem que escurece, desvio-a com um toque da minha mão,
doce ilusão,
Deuses de faz de conta que pensam, cometem, perfeição na multidão, esgares,
dão ares...
cabeça de fogo, cabelos num rosto incendiado, embriagado,
alheado...
corpo estendido no chão, no caos, desarmonia que espalha,
ladainha do mendigo, drogado que refila... como um cão, afirma,
culpando a sociedade que o rejeita, enfeita, desfeia,
remedeia...
calor que se intensifica, esplanadas cheias, bebidas frescas, gelados,
gargalhadas sentadas,
instalados...
incomodados, cidade velha, comiseração de quem vê, de quem vem,
de quem tem...
como Deus malévolo incendeio, afasto-os, quando passo, desfaço nuvens, alardeio, desavindo, não abrigo,
castigo... mentes, gentes, gentios,
pedintes ao desafio, miséria que se mostra,
que se prostra,
entrada da igreja onde me sento, entoa coral... no altar,
toco no astro-rei, sinto-me um Deus, afasto nuvens negras, passeio por entre fartos, faminto,
porque os sinto, são meus, quebro regras, faço julgamentos, trago-os comigo...
cidade que se gasta,
se farta,
decrépita, quando se despe de finas roupagens, tantas voragens, paredes sujas, enegrecidas,
caídas...
avenidas, ruas estreitas, olhos ávidos, tantos vencidos, mãos que se estendem,
corpos que se vendem,
não dão,
passam indiferentes,
estendidos no chão, indigentes!!!... Sherpas!!!...
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