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Sherpasmania

... albergue de poemas, poesias e... outras manias, bem sentidas, por sinal!!!...

Sherpasmania

... albergue de poemas, poesias e... outras manias, bem sentidas, por sinal!!!...

31
Ago07

... chuva a... potes!!!...

sherpas

… bem conhecido de todos,

dançando e cantando à chuva,

sentados na sala escura, deliciados,

bem mais novos,

obra-prima que se apruma

quando se recorda,

bons bocados,

América dos encantos mil,

Hollywood dos sonhos lindos,

ingenuidade, doce vinil,

passos primeiros, tempos idos,

pancada de água que cai,

 

Paris 044

improviso,

memória que se não esvai,

inesperada, sem aviso,

recebida com bom agrado

tendo na cara, um sorriso,

chapéu de chuva aberto… fechado,

 

não cantei, não dancei

no momento em que a apanhei,

numa simples vinda da compra,

mudança repentina do clima

num Verão com muita afronta

sol que se esconde, arrecada,

água que nos cai em cima,

descontrole na ganância, coisa tonta,

nariz torcido,

conversada,

 

experiência nas colónias que tivemos,

tempo parecido que sentimos

quando forçados, guerreiros

nas terras em que estivemos,

numa pausa casual,

comentando,

fazendo tempo, aguardando

intervalo nos aguaceiros,

 

tudo veio à baila,

parceiros,

geração que foi sofrida,

voltas de tanta vida

momentos do ditador,

estropiados, saudade, intensa dor,

 

idade dos vinte que trama,

farda com que se grama,

morte numa terra estranha,

companheiros  

por lá ficaram,

ligação a acontecimentos,

trovões, chuvas, ventos

bem maiores, mais intensos,

vozes que falam,

não calam,

 

caía a chuva,

intensamente,

soavam as imagens naquela gente,

grupo que se aglomerou,

compra feita,

inoportuna,

sol escondido num Verão,

água que cai em cachão,

olhos nas nuvens negras que choram,

 

conjunto que se arruma,

atirado p´rá guerra,

testemunha,

 

sem canto nem dança,

sem chapéu p´rá muita chuva,

num dia de compras normal,

sacos na mão, recordando

clima distinto, já ido,

semelhança com tropicalismo,

num dia qualquer, vulgar,

encontro ocasional!!!... Sherpas!!!...

 

 

28
Ago07

... reúnem-se em... terras de ninguém!!!...

sherpas

… apercebo-me que estou morrendo, pedacinhos de mim desaparecem lentamente,

escrito que me marcou, ainda vou lendo, associo a quem escreveu,

flor que se extinguiu, morreu,

lembro quando recordo,  ainda choro,

 

DSC01701

maneira de viver pouco decente, porque não uma vida permanente

para os que tanto deram,

ensinaram...

fizeram de nós o que somos, obras que não ficaram arrumadas na prateleira,

 

folheadas em certas alturas,  com gosto,

grande desgosto...

ausência repentina, partida para outro espaço mais justo, passagem rápida por cá,

buscando um canto mais selecto  para os dilectos, não crendo na ressurreição,

vida para lá desta, tão curta, tão modesta,

ingrata quando não reconhece... quem parte, quem falece,

outros destinos, outros projectos,

 

estrelas se iluminam em Universo distante, perenes porque se não apagam,

ali quedam estáticas, portentosas,

agregadas, luminosas...

depois desta curta transição, passagem

na luta insana pela Terra, voragem,

um passinho de gigante, continuidade, pensamento meu, doutra realidade,

 

pedaço a pedaço fico despido dos meus orgulhos, conhecidos de longa data

albergados nesta morada...

memória que tenho, não abstenho,

 

guardo com afeição o que me deram, ainda dão, corpo que se extingue, chama que se apaga,

dor intensa quando se pensa, cortejo fúnebre, glória que não desejou,

figura que permanece,

acabou...

 

visualizo em meu juízo, tenho prazer quando o faço,

homem com feitos perfeitos... não esquece,

 

na lavra da escrita, intuição, não me martirizo, passo,

repasso...

folheando páginas de livro que escreveu, entristeço,

melancólico, lembro o que lhe ouvi, enquanto o via falando,

gesticulando,

 

mestre que partiu para algum lugar desconhecido,

depois de vivo,

já morto, na sepultura deposto, mágoa, desgosto,

 

junto doutros que já partiram,  me reduzem,

matam pedaço a pedaço, se reúnem em terras de ninguém,

mais além!!!... Sherpas!!!...

 

 

 

 

25
Ago07

... há tanto encanto... na serra!!!...

sherpas

… há tanto encanto na serra, na urze com que me cruzo,

na pedra abrupta que reluz sob Sol intenso que brilha,

na ave que esvoaça, passa, no som da água que corre

por entre fráguas que se estreitam,

quando a enlaçam,

abraçam,

fina, débil corrente se junta,

torna densa,

alarga numa opacidade escura,

junção de tantas gotas, zénite como destino,

lago em que se comprime,

bem no cimo,

pertinho dum céu azul cristalino,

atmosfera que, de rara, se torna tão límpida, pura,

erva rasteira na beira,

alcantilados diversos

sossego que é refúgio,

motivo destes meus versos,

 

restos de árvores queimadas,

espectros que se mantêm,

mortas, depois dos incêndios,

memória de florestas perdidas,

encostas nuas, despidas,

 

desolação naquelas escarpas,

choros, lamentos me vêm,

recordo primeiros compêndios

quando falava daqueles domínios,

lusos aguerridos,

Montes  Hermínios,

alturas, fugas, enfrentamentos,

mantos alvos de medo,

quebradas, vales escondidos,

pastoreio que se prolonga quando se lembra,

se saboreia,

momentos,

encantamentos,

 

sou de planuras,

espaços amplos, abertos,

alcanço lonjuras imensas quando alço meus olhos,

vislumbro horizontes indefinidos,

distantes,

linha que toca no firmamento,

quando penso,

estando imerso neste buraco,

algures na serra em que me foco,

diferente,

 

pedregosa, gélida, recuados ecos,

história que me avassala,

frescura que me faz calafrios na pele que sente o vento que passa,

silêncio como no interior de catedral,

obra da natureza,

altar maior,

lago bem no fundo de pedrarias desconformes,

possante, vigorosa

calmaria que se instala,

quando o vento se cala,

formosura portentosa,

 

há tanto encanto na serra!!!... Sherpas!!!...

 

 

22
Ago07

... o Alentejo... no mês de Agosto!!!...

sherpas

 

… o Alentejo,

meu amigo,

ao longo do mês de Agosto,

assim o penso, assim o sinto,

só depois do sol posto!!!...

DSC01690

calma que se espalha, lentidão,

tarde quente de Verão

na rua deserta da vila alva como linho,

branco ligeiramente desmaiado,

sombra reconfortante, cigarra que soa seu hino,

barulho repetitivo que convida

a um cerrar de olhos, sonolento,

atirar dum corpo descuidado,

banco de pedra fria,

adormecido,

 

até ele sofre calor intenso,

quebra-se a fortaleza de qualquer

perante,

liquefaz-se o pensamento,

esboroam-se imagens que adormecem

na modorra que nos sustenta,

esquecidos,

vê-se estampado no rosto

em qualquer mês de Agosto

quando, com valor, se enfrenta,

 

recordam-se coisas diversas,

lembra-se melancia fresca, doce,

recanto doméstico, interior,

portas e janelas cerradas,

lânguido percalço, como se fosse

dia do Juízo Final,

 

longa tarde quente de Verão

vila branca, desértica,

mantendo tons, estética,

folhagem de árvore que não bule,

azul forte como campânula,

palco gigante dum Sol abrasador,

vedeta sideral,

energia, vida, ponto fulcral,

 

gaspacho frio na mesa, minha gula,

campos gélidos da Sibéria, meu desejo, pendor,

som arrastado da cigarra

noutra tarde calma

dum Agosto que não este,

ligeira aragem que passa,

tal como eu,

por aqui,

um bocadito diferente

como se quer em toda a gente,

sendo normal como os outros, porque… iguais,

nem de menos, nem de mais!!!... Sherpas!!!...

 

 

21
Ago07

... liberto de... qualquer amarra!!!...

sherpas

… no limite da amargura,

 

na prepotência, no abuso,

débil reinado, pura loucura,

opressão que incomoda, perturba,

solto os cabelos ao vento, abro as portas que uso,

cavalgo palavras minhas, isolado, na imensa turba

 

DSC09755

deambulo,

porque me encaminho

liberto de qualquer amarra

revigoro,

não anulo aquilo que se escreve, narra,

procuro

mote que não imploro,

 

componho o que me apraz,

faço mais do que sou capaz,

 

pensamento como cavalo irado,

desembestado,

vou mais além do que posso,

martirizo ondas do vento,

fustigado,

provoco sons cavos, profundos,

inundo meu entorno, giro à volta d´outros mundos,

invoco o Pai como nosso,

 

calmo,

sossegado no meu retorno,

alivio penas, dores,

sensações, divinos sabores,

doce campina que atalho,

tarefa que me proponho,

 

pertinente,

acicato mente de doidos, afasto garras, dentes,

cadeados e correntes,

quebro música mais funesta,

recolho martírios que vivo, trago o coração cativo

nesta liberdade que sinto,

neste vento que me projecta,

neste cavalgar que sonho

quando escrevo, quando componho!!!... Sherpas!!!...  

 

 

17
Ago07

... era pequeno!!!...

sherpas

 ... era pequeno,

tinha o meu lagarto na mão,

como tantos amigos meus,

com os seus,

naquele dia de procissão,

longas filas de fiéis tinham partido da Igreja Matriz

ao som dos sinos que se ouviam, das rezas que o padre entoava,

passadas lentas, pausadas, solenes,

fatos de gala, imagens nos andores,

063

sorrisos, dores,

dos endinheirados, das beatas, dos conformados,

lágrimas de saudade, arrependimento,

promessas que se cumpriam,

lá iam,

 

um diz que se diz,

curiosidade dos que ficavam, não cumpriam a tradição,

época festiva, recordação tão boa,

quando petiz,

irrequieto, travesso,

não dado, mais avesso,

gostando da festa, como festa,

não envergando opa roxa,

não sendo trouxa,

não ia na cantiga do sacristão,

em missa ou procissão,

precipitado como sempre, extenso grupo que se atirava estrada fora,

não esperava, não cumpria,

ia embora,

 

passávamos no Senhor das Almas, pequena capela junto à estrada,

fazíamos o sinal da Cruz,

quando nos persignávamos, flectíamos os joelhos,

como víamos fazer aos mais velhos,

pardais à solta, como revoada,

subíamos os degraus, espreitávamos os santos do altar,

mais uma Páscoa, mais um lagarto,

bolo da massa finta com ovo na barriga inchada,

guloseima que aguardava altura própria,

depois da cerimónia,

 

tempo de descansar,

aproveitávamos aqueles bancos de alvenaria

colocados no exterior da capela, nos lados da frontaria,

pintura recente, ponto em branco,

antevisão da festa com romaria à Senhora da Vila Velha

sob forma de procissão,

escassos quilómetros do centro, ribeira grande lá ao fundo,

pegos e recreio, nosso Mundo,

escapadas nas tardes quentes do Verão

que se aproximava,

pensava

enquanto a olhava lá de cima,

 

sentados e felizes, agarrados aos lagartos,

no santuário, destino dos crentes,

prevendo a chegada que demorava,

ansiosos,

tão inocentes,

 

só se comiam depois da chegada da Santa ao local,

pequena elevação ladeada de oliveiras,

saída da igreja principal

para a igreja mais bonita que conheço,

forrada de azulejos,

antiga vila pejada de segredos

com covas dos mouros, estórias que se contavam de boca em boca,

sepultura dum padre numa certa passagem,

que se não podia pisar, sacrilégio, pecado grave naquelas mentes

simples as gentes,

gulosos, frementes,

com seus lagartos de massa finta, ovo no bucho,

aguardávamos o desfile que se aproximava,

já soava,

 

discurso feito pelo padre à Virgem,

dispersão,

confusão,

depois do preito, da romaria da Vila Velha,

quando a terra era mais pequena,

tantos anos passados,

tempo de folares, de lagartos,

de pintainhas... para as meninas!!!... Sherpas!!!...

 

17
Ago07

... largo dos... poetas!!!...

sherpas

... foram grandes, sendo pequenos,

palradores, grandes engenhos,

da arte esgrimiram versos,

compuseram tramas, contaram aquilo que viram,

leram, entoaram alto,

mostraram o que valiam,

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épocas recuadas, cantos da Terra,

passagens como voragem,

narração que entretém,

centra toda a atenção,

letra duma canção,

risota, certo desconforto,

café que se toma, absorto,

traje cinzento, permanente,

estando sentado, sempre ausente,

 

fumo que se espalha pela face,

aguardente que não está presente,

chapéu quase caído,

olhar na chávena vazia,

perna cruzada, na esplanada,

tento de noite, fuga do dia,

mente repleta, manga de alpaca,

heterónimos em que se esconde,

vivendo a vida de longe,

 

mantendo seu traje de frade,

brincando com tudo, jocoso,

porque lhe dá brilho, grande gozo,

risadas que provoca a eito,

com desplante, imenso jeito,

sentado como farsante,

goliardo assumido,

divertido,

 

fugitivo da clausura alentejana,

sentado na rua, alarve que se explana

quando mostra o que declama,

povoléu que se avoluma,

gargalhar que se espalha, entoa,

em qualquer canto se arruma

deambulando por Lisboa,

 

sátira de momento, inspiração,

retrato do galhardo, do nobre, da prostituta,

do vulgar, do aldrabão, do que trabalha e luta,

palavras que lhe surgem,

ocasião,

negação, vida voluta,

ornato do que lhe apraz,

que descarrega, quando faz,

 

galante perante as damas,

aventureiro, navegante,

soldado do imprevisto,

rodeado de imagens, de chamas,

trinca-fortes, arrogante,

quando novo, fogoso ainda,

patriota, rebelde, amante,

infortúnio como lema, como sorte,

pouco antes da sua morte,

obra de grande vulto,

cântico como proeza,

destreza no pensamento,

 

encanto tão demarcado

na canção, no verso, no soneto,

respeito pelos avoengos,

preito, gratidão,

épica descrição dum Povo,

comparação a Deuses, Deusas,

quando espalha palavras densas,

quando as arruma em cantos,

quando as descreve com zelo,

mostrando sua Nação,

seu enlevo, devoção,

 

diáspora como destino,

épocas que confluem,

se agregam quando se unem,

obras diversas, caminho,

posições em que os colocaram,

satírico, como gozando,

elevado no pedestal,

lá no assento etéreo, tão alto,

sentado, observando,

estátuas daquele largo

por onde passo, reparo!!!... Sherpas!!!...

 

 

17
Ago07

... ninguém!!!...

sherpas

 ... figura imperceptível, ralinho de corpo, calado,

encolhido mais do que deve,

envergonhado da sua pobre existência,

cabisbaixo, quando se desloca dum para outro lado,

não se vê,

fazendo por isso, consegue,

DSC04539

lá vai no seu percurso rápido, concentrado,

cismático, pontinho tão curto,

apóstrofe numa linha, sem qualquer valor,

no extenso texto da vida que se escreve

sob qualquer pretexto,

fora do contexto,

quase perdido, colado,

 

pés silenciosos que não pisam,

não esgrime, afasta do contacto,

olhos que não visam,

sem cheiro, sem tacto,

boca cerrada, língua parada,

num ir, num vir,

deambular por caminho de ninguém,

não sendo,

temendo outros e vidas,

nas suas idas,

nas suas vindas,

 

casa, trabalho,

tão pouco valho,

recolhimento, introversão,

apagamento consentido,

negação,

ralinho de corpo,

peso morto,

 

repentinamente algo se muda,

qualquer acrescento no tacão do sapato,

mais alto, mais direito,

olhos abertos, apanhando de frente,

na fronte de todos, tipo perfeito,

corporizou-se de repente,

passou a ser gente,

 

que teria acontecido,

pergunta que paira no ar,

sussurros, burburinhos

perante o desconhecido,

utentes destes caminhos

que o conheciam, ao cruzar,

 

pessoa de círculo mais próximo,

colega de labuta na oficina,

esclareceu naquela esquina

pedindo segredo, querendo ser anónimo,

que tinha subido de posto,

que tinha seres a quem escarrava,

quando exigia, quando ralhava,

via-se-lhe estampado no rosto,

 

prepotência que gozava,

mais elevado do que antes,

dando-se ares, manias,

provocando antipatias,

 

fazem-se assim,

parece-me a mim,

sobranceiros, pedantes,

quando alguma coisa se tem,

passa-se a ser alguém,

mais além,

continuando sendo... ninguém!!!... Sherpas!!!...


15
Ago07

... bairro de... lata!!!...

sherpas

... já me imiscuí por paragens dantescas de miséria,

olfactei odores pouco agradáveis,

chusma de excluídos, maleita séria,

vi cenas de pobreza extrema,

passei por barracos feitos de chapa, de latão, de cartão,

cirandei pela sala principal destas gentes,

a rua que os abriga,

doença grave que se não cura, sempre na mesma,

o esgoto que corre bem ao meio,

de fome,

grande barriga,

regato onde brincam crianças quase nuas,

sorridentes com todos os dentes,

cabeças à chuva, ao vento, ao sol,

sociedade desconforme,

apesar da boa intenção,

proferida por quem governa, que afirma,

ridículo encartado,

quando se perfila

perante os que lhe dão relevo,

mavioso enlevo,

qualquer câmara de televisão,

pasquim com tiragem suficiente, orquestração,

 

homens sentados, velhos, novos,

batendo cartas, pensativos,

trapos que são lavados em águas sujas, ali à porta,

gestos repetitivos,

som que se atira, mais forte, estridente,

chamamento, ameaça,

gritos aflitivos,

lancinante apelo a um Deus que ignora

quem sofre, quem pena, quem chora,

 

uma risota, uma chalaça,

encolher d´ombros,

aceitação,

passar do tempo naqueles escombros,

ruinhas estreitas, amontoado d´almas,

fumaça que se solta dum braseiro aceso,

sardinha assada, pequeno acervo

para tanta boca à mingua,

saliva na boca, papila que lembra, ponta da língua,

dali emerjo,

afluo,

recuo,

 

sítios parecidos, favelas que se aglomeram,

pessoas que esperam

quando desesperam,

sorte ou destino que se abate,

fúria que arrasta,

tortura que mata,

chuvada que passa,

rio que engrossa, lençol lamacento que se estende,

submerge o que encontra,

se mostra na montra,

milhares que se apagam,

rostos inexpressivos

mais mortos que vivos,

sombras indefinidas tão desvalidas,

 

são corpos, são mortos

de fome, plenos de desgraça,

foice que cega, terrífica que... passa,

 

sempre assim foi, continuará sendo,

não se importando, lá vão,

enquanto, gemendo,

desvalidos se encostam aos montes,

lugares perdidos pelos continentes,

sobras, restos,

horrendos manifestos

duma civilização que se perdoa

quando entoa

oração a preceito, num templo,

evoca ou avoca em seu proveito,

esquecendo defeito,

aquilo que vejo, agora contemplo,

 

memória que fica,

passagem que marca,

fúria que sinto num bairro de lata!!!... Sherpas!!!...

 

 

09
Ago07

... há quem... não queira ver!!!...

sherpas

… há quem não queira ver,

 

pior do que cego,

do que míope, estrábico ou vesgo,

prefira olhar p´ró lado,

posição cómoda que não arranha sequer

corpo ou alma de cada um,

mantendo pergaminhos, posições,

muita, pouca valia,

quando se senta, passeia, recria,

DSC03704

acumula acções na banca, títulos, participações,

investimentos,

no meio de finos entretenimentos,

diversões que são badaladas,

gentes bonitas, esculturais,

sorrisos com olhos cintilantes,

dentes brancos de marfim,

prendas caras, flamejantes,

 

rodando como num desfile,

tendo na mão copo meio cheio, meio vazio,

mostrando o melhor perfil,

noites quentes, sem frio,

gargalhares ao desafio,

corpos em riste, peitos ao léu,

cabelos sedosos como véus,

odaliscas prometedoras,

velhos babados,

endinheirados,

rapazinhos que lhes agradam,

corte vasta que se compra,

das vaidades, pequena montra,

 

não dizem nada, vão cumprindo

trabalho que dá prazer,

ocupação, puro lazer,

toques a esmo que dão frémitos,

gozos inconfessáveis,

noites, perdição, guinchos, gritos

dos que entretêm notáveis,

como outros, tão descartáveis,

 

há quem não queira ver, pior do que cego

na plêiade, “snob” multidão que enlouquece,

homossexual, pederasta, lésbica, hetero,

gigolô, mafarrico, prostituta com seu ego

quando se vende, monta noite que arrefece,

na música que ouve, droga que inspira,

no ladrão que alivia algibeira, cartão,

proxeneta de profissão,

aproveitador de estalo, tamanha confusão,

 

reles empregado de mesa, serviçal, bem disposto,

mantendo sorriso no rosto,

inclinando espinha dorsal,

aguentando disparate do alarve, do boçal,

como quem não quer a coisa,

como mosca que revolteia, poisa

na cabeça dum qualquer,

seja homem, seja mulher,

Sodoma que se recria com ênfase, simpatia,

travestidos, recreados,

fazendo da noite, um dia,

transbordando toda a loucura

numa busca, numa procura,

 

há quem não queira ver, pior do que cego

ou… vesgo!!!... Sherpas!!!...

 

 

03
Ago07

... entrega... sincera!!!...

sherpas

 ... poema,

entrega sincera,

nele, tudo se encerra,

dele, tudo se espera, conversa íntima que temos

quando contamos, quando sofremos,

quando cantamos aventuras, desvarios,

quando tentamos descrever amores, desafios,

quando entregamos o Mundo

tal como o vemos,

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quando o aperfeiçoamos, mascarando o horror,

formoseando lugares de pavor,

terras inóspitas,

desérticas, figuras carregadas de sofrimento,

esqueléticas,

 

agruras para tanto desprezado... que se albergam num verso,

esgar amargo

que disfarçamos com um sorriso, palavra amiga que enleia,

feliz de quem saboreia,

 

distingo num poema que se entoa na solidão dum quarto vazio,

companhia, vontade suprema que nos enche, nos afaga, nos abraça,

que fica, não passa,

 

sinto aquecimento dum corpo, suspiro da alma, alivio,

reconfortante...

aconchegante situação, doce emoção para os esquecidos,

sensação dum poeta

que não escreve, que sente o que lhe dão

na altura certa,

ocasião,

 

formatos diferentes, conteúdos idênticos,

aproximação de muitos entes que se encontram num gesto,

num pensamento,

únicos...

 

tão cêntricos,

alvos de tudo, não excêntricos,

poema dum homem sozinho, intento,

profundo alento!!!... Sherpas!!!...

 

 

 

 

03
Ago07

... eixo... rebaldeixo!!!...

sherpas

... é cíclico, acontece após alguns milhares de anos, sempre assim foi, afirmam convictos,

os científicos...

o eixo imaginário deslocou-se um pouco, o anticiclone dos Açores já não protege,

foi mais para o Atlântico Norte, com certezas, com enganos

tentam justificar este Mundo louco, nas rotações que se sucedem,

nas translações que acontecem,

 

tal como quem leva um murro nos queixos,

maxilares que se deslocam,

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enxurradas que se abatem em Países europeus,

formiguinhas desvalidas... quantas mortes, quantas feridas,

não há providência de Deus,

cruel destino que tudo arrasta, sem oração, sem graça,

facto consumado que nos destroça, quando nos toca, quando nos roça,

 

não se ajustam, não se colocam... funcionam com desperfeitos

evidência que apavora,

gritos, lágrimas de quem chora, alguma indiferença por parte de quem não pensa,

aceitação dum Inverno em pleno Verão,

desde há décadas que se não via tal inversão,

 

como numa brincadeira qualquer... quanto a eixos, rebaldeixos

eles furam, enterram, exploram,

buscam, sugam, explodem, investigam, instigam, estudam, analisam,

preenchem compêndios inteiros, desfazem no que já sabiam,

 

aprendem novamente... sabedores, quase certeiros,

pobre daquele que mente,

conhecimentos vagos, falhos, quantas pragas, guerras, ralhos,

somos assim, somos gente,

 

fazendo o que se bem quer.. investigando como criança

numa horrível contradança,

 

temperaturas que queimam... matam plantas, animais,

humanos também, como iguais,

sopram calores intensos, ingerem líquidos, mergulham esbaforidos,

sentem-se mal, quase perdidos,

 

nunca tal coisa se viu... que saudades do tempo frio,

incêndios avassaladores, ineptos, quando chamados,

bombeiros apalermados,

 

aviões que espargem águas, desastres,

quedas bruscas... mortes enquanto ajudas, enquanto buscas,

velhos desprotegidos, vítimas duma situação criada por abusos,

por lucros,

 

em desarmonia consertada... não ligando mesmo nada,

ganhos duma selvajaria que se chama economia,

produção em quantidades portentosas,

desperdícios, lixos, coisas,

coisas, lixos,

 

desrespeito pelo que estava perfeito... atitudes calamitosas,

sociedades de luxo, acomodadas, despreocupadas,

estrépitos, guerras pavorosas,

 

experimentação do que se esquece... aproveitação duma energia que se desconhece,

todo um lodo escuro, transformado,

utilizado,

 

alquimia diabólica de básicos, engendrando complexos produtos,

podres os frutos...

carnes que consomem carnes, tumores malignos,

indignos,

 

dando encontrões em profundidade... nos cumes mais elevados

ignorando a realidade

 

desequilíbrio... pesporrência de quem se julga dono de tudo,

cabeças ocas, sem ocorrência,

crédito absoluto numa ciência de acasos que se acumulam,

que desculpam,

eixos fora do sítio, períodos cíclicos, anticiclone dos Açores,

 

como numa brincadeira qualquer... quantas dores,

deslocação provável que ocorreu mais para Norte do Atlântico,

não protege o que protegeu,

tudo inundou, tudo ardeu,

 

confusão que gera... algo se espera, interrogação permanente,

mal de todos... pobre gente,

 

quanto a eixos, rebaldeixos... quando lhes toca, quando lhes roça,

asneira grossa,

flores que surgem na altura menos própria, abelhas em desvario,

frutos maduros, pólen inexistente,

estação que passa, gera desgraça, acomodatícios,

sem honra, sem brios,

 

seres que acusam... sobrevivem no engano, conhecimentos que não possuem,

justificações de quem não tem

mão no que lhes toca, quando lhes bate à porta,

 

todos... de rostos virados!!!... Sherpas!!!...

 

 

01
Ago07

... abraço!!!...

sherpas

 pródigo convicto do abraço, como escrevo, como faço,

estendo vontade para além de tudo,

com ele me confundo...

 

irmano meu corpo na mente que ascende,

na palavra que traço, no poema que esculpo

na tecla onde bato...

Veneza (760).JPG

saído da Terra, ínfima semente, planta que cresce, que abarca quem passa,

afago o mendigo... quando predigo,

esqueço a desgraça,

 

como destino d´amor que se converte

num gesto em que se aposta,

como se gosta...

 

amigo desconhecido, oferenda tão doce,

dádiva permanente, caminho, bondade maior de todo o Universo,

num simples verso...

 

num gesto travesso, piscar d´olhar cúmplice, imerso,

rosmaninho, incenso...

 

olores que se espargem, sem erros, sem margem, sem fronteira

nem barreira...

no cume da cordilheira mais alta, se aproxima quem se afasta,

 

se detesta, se mata, crueldade inexistente

no âmago da gente...

 

coração latente, necessidade que se sente

num gesto emergente...

enlaço que faço,

 

quando dou, quando passo, quando alinho palavras,

as arrumo, as empino...

as envio como destino!!!... Sherpas!!!...

 

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