... muro alto, velho, gasto, rendilhados profusos, nichos, esconderijos, cheiros com restos de todo um passado,
preces, promessas, confissões escritas...
vestes escuras, cabelos em tranças, soturnos, barbas longas de respeito, chapéu enterrado,
balbuciando sons repetitivos, movimentos de submissão, inclinação,
espécie de lamento, choro contínuo, pedido de perdão...
estranho povo eleito com tanto defeito, mancha milenar que se abate, permanece,
naquele pedaço de Terra, por todos, considerada Santa,
sempre se lembra, não esquece,
![]()
na Judeia, onde nasceu o filho de Deus feito Homem... vindo do ventre duma virgem,
presença do que Se manifestou, conviveu, partilhou,
percorrendo caminhos de todos, amando como sempre amou,
esperança que se atalhou, árduas penas, injúrias, logros,
lamentações que passam de geração em geração, castigo do arcanjo Miguel, espada em riste,
perseguição que se eterniza, holocausto que se recorda, fuga do que sempre foram, muito antes da anunciação,
escravizados no Egipto, pastores de eleição...
pescadores da Galileia, gentes simples, conversão de Simão, pedra primeira da religião,
usados por poderosos, sob a pata do imperador, terras do leite, do mel,
promessa de Deus...
oh Israel,
quanta amargura, quanto fel...
resto dum templo, lugar sagrado dos judeus,
apego ao material, aviltamento que os mantém, influentes, donos do Mundo,
mentores duma maldição, esgarramento, perdição, escorraçados como ninguém,
conflitualidade permanente de quem tudo tem, nada tem,
ainda agora em Belém...
julgaram o inocente, venderam a salvação... foram Satanás, ainda são,
dualidade que se não esconde, espiritualidade que se transforma,
peregrinação que continua... fuga que se acentua,
mortandade como estigma, arcanjos, santos díspares, profetas, palavras de Deus,
Jordão de águas benditas, sagrados livros, escrituras, Tora dos ensinamentos,
grandes rasgos, momentos...
pragas que se abateram, memória que vai perdurando,
Abraão, guia dos encantamentos,
leis gravadas nas pedras, iniciação na pregação, apóstolos da palavra dita, exemplo do Cristo na Terra,
quanta fome, quanta guerra...
pelo meio duma oração,
desdita que permanece na chama que se vai vivendo, castigando o crente, o não crente,
loucura que avassala, quando se instala, temendo,
quando se desgarra, se sente...
ódio que gera ódio, religião que se enfrenta, mesma fonte na divergência em que aposta,
quando se adora, se gosta...
cristão verdadeiro, judeu, muçulmano, apóstata,
variadíssimas que são na contenção, no caminho, união com Quem nos une, com bravata ou de mansinho,
corpo único, princípio, fim, aglomerado
do que se desconhece, é adorado...
multidão que se prostra com tanta fé, lamentando actos, feitos, chorando seus pecados,
entregando pequenos recados...
num nicho daquele muro, recanto mais que sagrado,
afluência na renúncia... arrependimento que se pronuncia,
lamentações de trajectos ínvios, escusos, desvios, tentações,
premonições...
oh, Jerusalém, meu encontro, perdição, afluência, deslumbramento,
martirização através da dor, no sentimento,
cura de tanta aflição...
escrituras d´outro tempo, louvores espalhados ao vento,
hino que canta esperança, lágrimas que se derramam nas chagas,
carnes dilaceradas...
corpos feitos em pedaços, Cristos desfeitos com ferros, aços,
energia de todas as forças, desagregação do que é natural,
tanto mal, tanto mal...
fúrias apocalípticas, poderosas, terroríficas,
mares que secam, separam...
hecatombes que nos apoucam, bíblicas descrições que se descortinam,
génese do que é belo... quando lembro, me arrimo,
passo os olhos, com desvelo, por esse muro espectral,
pedras tão antigas, velhas com chagas tão rendilhadas,
dantes templo, no culto judaico, sinagoga, catedral!!!... Sherpas!!!...
![]()
![]()
![]()