... caminhos!!!...
... como tantos domingos passados,
atravessei a ponte que nos liga a Lisboa,
indo do Sul, margem mais desafogada,
harmonia que existe, pobreza à toa,
gente que labuta com denodo,
descanso que os obriga,
quando os esqueço, me desligo,
sem destino, coração ao ar, adentro na imensa urbe,
avassalo tudo, noutro espaço que me surge,
passando pelo que me cativa,
indo para um lado, virando ali ao fundo,
seguindo via que me conduz,
mais me seduz,
passei Alcântara, obras que não acabam,
alindamentos,
Tejo que se vai descobrindo,
aproveitamento,
mais um intento,
edifìcios novos, apartamentos com vistas, hotéis,
projectos de quem comanda edilidade,
equipa que se julga capaz,
num faz que não faz,
como anteriores,
promessas, furores,
resplendores,
sorrisos que cativam,
convidam,
fazem crer, no tempo que passa, marca,
coisinha parca,
estadão no inchaço que lhes proporciona,
quantia grossa, provecta soma,
esquecimento, esquecimento,
quanto deleite no esvaziamento,
buraco que se avista, máquinas paradas, caminhos cortados,
mais um pedaço,
na linha mais bonita que conheço,
com Tejo ao lado, velocidade de cruzeiro,
praias plenas de gentes encaloradas,
coloridas pelas sombrinhas, pelas toalhas, pelos calções,
bolas que brilham,
águas cristalinas, tão sujas como antes,
prainhas mais baratas, juntinhas à porta,
carteiras pouco volumosas, classe que se não importa,
rainho de sol, bronzeado no corpo,
estirado com a família enquanto passa o dia,
longe da balbúrdia,
espaçamento que sabe bem, intervalamento,
momento,
mais uma curva,
passeio mais lento,
excesso dos que, como eu, procuram o mesmo,
comendo estrada, gastando uns cobres,
passando os olhos, buscando um caminho,
outro destino nas povoações que se atropelam,
circundantes da menina e moça,
dormitórios que se transformaram em vínculos profundos,
empresas, comércios, serviços, recreio nos tempos mortos,
incentivos,
chamamentos contínuos aos da outra margem,
depois da ponte, daquela passagem,
ao longo da linha que nos encaminha, que se alonga,
prolonga,
se alinda, cativa, convida,
paragem numa imagem que se retém,
passos que se dão à beirinha, enfeitiçados pelos ares, pela luz que nos inebria,
lá vamos como se fosse a primeira vez,
tão conhecida... era uma vez,
quantos anos passados, quantas viagens repetidas,
nas idas, nas vindas,
satisfação plena, tarde feliz, temperatura amena,
no condicionado que se liga,
janelas fechadas,
passam carros, passam caras, passam jornadas,
passam encantos, passam estradas,
passam repuxos, espraiam-se as águas,
alongam-se as fragas,
caminham suados, fluxo contínuo,
gastam sapatos,
esforçados nas caminhadas,
menos jovens, idosos que se agarram ao que adoram,
viçosos ainda, esboroam anos,
sorriem, não olham,
hábito diário... antanhos!!!... Sherpas!!!...