... impacto!!!...
... praça de S. Marcos, multidão,
tão seca como areia de praia em tempo de Verão,
empilhamento de partes de “passarelle” num dia reluzente,
águas tranquilas da lagoa, gôndolas a dar a dar,
condutores com fardamenta riscada, chapéu condizente,
óculos escuros, sorrisos convidativos para passeio,
trajecto, sempre o mesmo, nas ruelas que são canais,
passando por baixo de pontes que se alteiam no meio,
contratempo de quem passeia, se recreia,
num sobe, desce labiríntico,
paragem obrigatória, enlevo, sonho, devaneio,
recordação daquilo que somos,
românticos de todas as idades,
sempre assim fomos,
mais sofremos desse encanto,
neste, naquele recanto,
quantas verdades, quantas árias entoadas,
águas deslizantes, plácidas,
como formatura, sentados,
lá vão conduzidos,
apreciando,
sorrindo, todos bem vindos,
novos, mais idosos, gondoleando,
serpentando,
ouvindo estórias de casas que foram,
Marco Polo, o navegador negociante,
elo de ligação entre República próspera, Oriente longínquo,
aventuras tresloucadas dum amante,
Casanova no seu tempo,
passagem por Monumento,
local de rezas, promessas, igrejas tantas,
música de acordeão que quebra silêncio, gargalhar de juventude sôfrega,
quase se pega,
circundantes na estrada que é canal,
convívio, porta aberta, aparcador, água que lambe poial,
costumeiro, quando calmo o canal
numa curva, um grito, um aviso,
esguia,
comprida, desafia,
habilmente conduzida vai passando
por casas velhinhas, palácios, palacetes, mais modestas,
ruinhas, travessas,
gastas, no osso,
quantos séculos convivendo com a água a seus pés,
recordo escritores, obras que tiveram cenário tão imponente,
tramas, ódios, quereres, vinganças, lutas, castigos, fugas,
ostentação, diálogo permanente de mercadores,
governação da velha senhora que se mantém,
palácio CENTRAL dos Doges,
regras férreas que,
quando quebradas,
mereciam um suspiro profundo, olhar saudoso
de quem se retinha na prisão,
no calabouço,
afastamento daquela beleza secular,
gritante apelo a um MUNDO diferente,
vida de quem nasce, se apaixona,
de quem vem,
se detém,
numa gôndola, reclinado,
bem no centro duma ponte,
numa estreiteza que confunde,
reduz existência corpórea, entre paredes tão velhas,
nas ruas que são água,
passagem,
sobe, desce constante,
confluência num “campo”
Rialto burbulhante, auge de vidas que afluem,
falam, param, retêm na imagem que se tira,
encantam, uma e outra vez,
ângulo deslumbrante,
partindo da praça de S. Marcos,
tão seca como areia de praia em tempo de Verão,
empilhamento de passadeiras,
contratempo, um senão... Sherpas!!!...