carro arrumado na garagem ESTRELA, passo de lado, ao largo, divirjo,
quando m´oriento, dirijo
a pé... em busca dum café,
calcando calçada, passeio esburacado, ainda cedo, para longe do meu abrigo,
olhando tudo que passa, casa velha, degradada,
algum ruído...
sem graça, sem brio, lá vai, destino incerto,
não perto...
carro habitual, transporte, d´alguém que pode,
na penúria que se sente, na rua, pouca gente,
velha que arrasta desgraça, sacos de plástico na mão,
noutra direcção...
olhar entristecido, pelo tempo... envelhecido,
no chão, costas curvadas, peso q´aguenta,
ainda intenta,
lentas passadas, fazendo pela vida,
fugida...
no contentor ali perto, rebuscando, rapaz novo,
mal vestido... mais buracos que tecido,
leva carreta, atrelado, restos q´acumula, bem cedo,
vasculha no lixo, ainda em segredo... com medo,
e eu, em busca dum café, dando passadas largas,
a pé...
fazendo caminhada, passando tempo,
lamento, quando encontro, vejo,
faço estória, componho espaço, deixo vestígio... num escrito,
enquanto passo,
envergonhado, maldigo, pensando comigo...
dou voltas à povoação mais próxima, todas em cima umas das outras,
dormitório da capital, margem SUL, anóxina... situação anormal, mau estar que se
prolonga, vida congelada que s´alonga,
movimento que se não sente, ausente, café fechado,
passo ao largo...
continuo caminhada, passeio esburacado,
um, que outro, carro que passa...
por causa de um café, vou a pé, observando meio urbano conhecido,
entristecido...
alguns farrapos que foram gente, sombra que é consequência,
d´atitude de certa excelência,
contentor mais vazio, consumo por um fio,
busca, rebusca com um pau, olhar desvairado,
roupa com muito buraco, estômago que reclama alimento,
único pensamento... sobrevivência,
mais além, decrépita, tão velha, tão curvada, saco na mão, plástico que é bolsa,
que é saco, que foi compra, o tempo passa, deixa marca, miséria que se acentua,
naquela rua...
encontro fortuito, fuga, murmúrio, monossílabo que oiço,
estremeço...
fraco arcaboiço,
grande superfície já abriu, desço escadas de madeira, entro,
aprestam-se pastelarias no piso superior, ouve-se barulho de bica que sai, odor
tão quente...
ali em frente, à minha beira, quase maquinal, direccionado pela intenção,
menos mal, menos mal...
beberico o que m´acalenta, recomponho, pago, regresso a pé,
desfazendo passos dados,
alguns bocados...
trajecto d´ainda há pouco, algum encontro, minha casa, meu prédio, meu
apartamento,
entro, penso...
olho para o carro estacionado na garagem ESTRELA,
sento,
escrevo!!!... Sherpas!!!...