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Jul05
... intenso... o cheiro do incenso!!!...
sherpas
intenso, o cheiro do incenso,
queimado na catedral,
nuvens de fumo se espalham,
ao longo da nave central,
pejada de muito crente, quando penso,
naquela tarde de festa,
muito longe do País,
como curioso, afinal,
não participe de tal gesta,
porque a fé, nada me diz,
meu pesar, meu grande mal,
em quem hei-de acreditar (???...)
depois de ver o que vejo,
tanta fome, tanta dor, tanta morte,
pouca ou nenhuma sorte,
coisas que não invejo,
permitidas pelos Deuses,
de todas as religiões,
são multidões, Senhor,
neste vale de lágrimas choradas,
seja onde for,
almas pobres, desencaminhadas,
oprimidas, aviltadas,
feridas esfaceladas!!!...
indiferentes, na catedral,
a rebentar pelas costuras,
o cheiro do incenso, é intenso,
padres, bispos, cardeal,
espargem fumos agridoces,
ao longo da nave central,
ao som das ladainhas,
quando lembro, quando penso,
no enorme ritual,
ouvem-se, sumidas, as vozes
dos outros, que não as minhas,
muito longe do País,
encenando a religião,
que a mim, nada me diz,
sem redenção, sem perdão,
um pouquinho de comiseração,
não entra em mim negação!!!...
pendentes dum gesto, dum sinal,
imbuídos de muita fé,
olham com gozo, respeito,
respiram o cheiro intenso,
no local, na catedral,
uns sentados, outros de pé,
agridoce, do incenso,
um rebanho dócil, sem defeito,
gente de muita fé,
bem longe de Portugal,
como curioso, afinal,
não crente, quando penso,
nos feridos, nas dores, nos mortos,
no massacre de tantos corpos,
padres, bispos, cardeal,
ao longo da nave central,
nuvens de fumo de incenso!!!... Sherpas!!!...