23
Jul05
... compra de... peixe!!!...
sherpas
o cheiro tresanda, emana empesta,
parece dia de festa,
clientela que avulta, que se enumera, tira senha,
dia de compra de peixe, por inteiro,
arranjado, ali na banca, com gana,
gestos maquinais, repetitivos,
de quem, por obrigação, o amanha,
não há mal que se não sofra, que não venha,
incómodo que se prolonga, o dia inteiro,
tripas que se esventram, escamas, com sanha,
com denodo, com ou sem vontade,
olhos abertos, aflitivos,
tal como os ditos, no gelo,
escancarados, vidrados, pura verdade,
às postas, estendidos, mortos, inertes,
não frescos, não vivos,
frios, desde há muito, num desvelo,
alinhados, dura realidade,
na montra, no escaparate,
na bancada do peixe,
lado a lado, não aos molhos, não em feixe,
convidativos, mas mal cheirosos,
pouco ou nada apetitoso,
no que tresanda que emana,
se não estranha!!!...
que variedade, no dia da confusão,
com senha, numerados na mão,
aguardando, cheirando,
olhando um belo cação,
carapauzinhos escorreitos, que perfeição,
não frescos, mortos, enregelados,
devidamente alinhados,
saborosa tentação,
só de lembrá-los, já fritos,
com arroz de tomate malandro,
estaladiços, quebradiços,
no restaurante, em qualquer recanto,
alívio, gozo, desafio ao sabor,
um encanto, um gosto um alvor,
madrugada compensadora,
afronto o cheiro, aguardo a altura,
com senha na mão,
olhando o tamboril, apreciando o cherne,
antevendo o gosto, mais bem disposto,
depois de pronto,
no prato, em casa, num sítio qualquer,
quando se aprecia quando se quer,
que belo safio, fanecas reluzentes,
olhos vidrados, escancarados,
no que, a peixes, concerne,
no dia da promoção!!!...
o tempo passa, desfia,
afronta, desafia,
cheiro nauseabundo, pestilento,
ali na banca do peixe intento,
número que passa, lento, bem lento,
com senha na mão,
que bela caldeirada, bons pedaços,
polvos, caranguejos, caracóis e mariscos,
outros mais congelados,
ali ao lado, pertinho do bacalhau,
serra que o corta em pedaços,
num zunido incomodativo, aflitivo,
o fiel amigo, inimigo de salgado,
abstenho-me, não o desdenho, evito,
quantas receitas, quantos sabores,
quando devidamente preparado,
que regalo, doces odores,
receitas mais refinadas, só cozido,
depois de devidamente regado,
não é nada mau,
um pitéu mas que escarcéu,
que barulheira se levantou,
algo, se me escapou,
enquanto pensava, como pantagruélico que sou,
não desmedido,
sem exageros mais p´ró comedido!!!...
a senha ia-se aproximando,
sem tão pouco me aperceber,
olhando, vendo, pensando,
sentindo o cheiro, não querendo entender,
apreciando e comparando
a garoupa, no que se poupa,
as postas de atum, de espadarte,
os bifes de cebolada, com que se arroupam,
quando se confeccionam,
com jeito, com arte,
quando se saboreiam,
se esquecem os maus bocados ali passados,
quando se deglutem, bem acompanhados,
com vinho branco, gelado,
bebido aos poucos,
sem tragos enormes ineficazes,
como loucos, vorazes!!!...
o cheiro tresanda, emana, empesta,
parece dia de festa!!!... Sherpas!!!...