... manutenção do... que se tem!!!...
… manutenção do que se tem,
cuidados requeridos sobre objectos que se possuem,
limpeza, arrumações que se fazem,
adoração pelas memórias que nos trazem,
aquele boneco de porcelana,
aquele quadrinho em relevo,
dois pormenores que, quando vistos,
mesmo de relance, nos lembram, nos conduzem,
nos arrastam o pensamento,
nos trazem um bom bocado,
mais ao longe, noutro lado,
quando deslocados em terra estranha,
num período de descanso, de compras, recordações,
com sorrisos, emoções,
gratas satisfações…
… sentado muito quieto, parado,
sob olhar atento de artista de rua,
fazendo figura de modelo, pousando,
turista que se deixou cativar
por caricaturas, por desenhos,
ali, pendurado na parede, o resultado
bem evidente, mesmo ao lado
num painel mais alargado, fantasia oriental,
com tons metalizados,
vizinhança que não se estranha,
embora antítese, contrário,
afinal não queda mal,
completam-se pela disparidade, irrealidade,
mundos adversos, distanciados,
amálgama de quem gosta de olhar, parar, recordar,
tocando levemente nos objectos que cuida com desvelo,
espalhados pelo lugar
que habita, quando recorda ausências,
paragens noutros sítios… permanências!!!...
… um livro escrito em língua que desconheço,
encadernação trabalhada, uma perfeição,
tão lindo, tão atractivo, por certo preço,
nem alto, nem baixo, o exacto,
foi ímpeto, atracção,
comprei, transportei, coloquei,
cá o tenho, junto dos meus,
nunca o li, nem vou ler, quero crer,
mas, tal como o desejei,
aqui o tenho comigo, amigo doutra língua,
complicada, fechada,
por vezes, folheio-o, respiro o odor das suas folhas,
olho para aquelas garatujas, desconformes,
quase cuneiformes, arabescos,
com respeito, embevecido, ponho-o no lugar que ocupa,
lembro a altura, o tempo, a troca,
a entrega do dinheiro, a aquisição… boa recordação,
que capa, que desenhos, que coloridos,
que escrita, que perfeição,
quantas interrogações me faço,
nem o título, nem o enredo… não conhecidos,
conteúdo que presumo importante,
lugar na estante das lembranças,
noutros tempos… esperanças!!!...
… mais uns bonequinhos dos que encaixam,
se arrecadam uns nos outros, um enfeite, um colar,
de terracota, uma Deusa indefinida,
velho papel, tipo papiro antigo,
uma recordação do Vaticano,
numa mescla que se defronta, não afronta,
aceitam-se, respeitam o lugar,
que bem se acham,
nesta outra sua vida,
existência na minha sala, depois de vinda,
que vejo, revejo, trago comigo,
objectos, devaneios,
acumulações sem receios,
memórias com estórias nos móveis, nas paredes,
como teias, como redes que me prendem
a lugares visitados,
que me deram, que me entendem,
tantos lugares… recordados!!!...
… artefacto útil, falha que se colmatou
naquele ermo distanciado,
de pouco vulto, aconteceu,
coisa que se comprou,
que se utiliza em qualquer lado,
nos acompanha no percurso,
quando se olha, quando se usa,
sorrio, quando lembro,
já vai tempo passado,
ainda o tenho,
boa aquisição repentina,
tenho a figura do comerciante na retina,
mantenho viva, recordada, a discussão entaramelada,
a conversada, o negócio entabulado,
a troca provocada,
objecto para cá,
dinheiro para lá,
aumento do pecúlio, património,
pequenas coisas de nada,
apontamentos de viagens que se fizeram,
que se guardam, que se mostram,
que recordam uma estada,
que nos dizem tudo… espólio,
traços, marcas, manutenção de objectos,
sonhos e afagos… ligações, afectos!!!... Sherpas!!!...