... amargura que... nos choca!!!...
… quando olhamos para uma árvore, pequena que seja,
junção de muitos ramos, imensidão de folhas, albergue de tantos seres,
encimando tronco robusto que brota de solo fecundo,
sem raiz que se veja,
que se oculta, que sobeja,
universo pleno de haveres,
com ninho tão trabalhado,
vedado ao olhar de curiosos,
quase escondido, disfarçado,
com ovos disseminados,
prenúncios dos que hão-de surgir, bem roliços, formosos,
prolongar das suas vidas, penugentos, indecisos,
d´olhos fechados, trôpegos,
desvelo, ponto de encontro, pólo maior, atenção
de duas aves que voam perto, sempre alerta,
orgulhosas do que fizeram, aguardando com emoção,
enquanto o círculo não se completa,
naquela árvore que observamos,
com ninho quase encoberto,
ali ao pé… tão perto!!!...
… é um Universo completo, juntinho a um ribeiro,
águas límpidas, borbulhantes,
com alguns locais bem fundos, como dantes,
correndo o ano inteiro,
por onde passam, nadando nalgum sendeiro
aquático, cardume de peixes vermelhos,
carpas, pardelhas, peixes pequenos,
apontamentos que nos completam
quando se contemplam,
nos preenchem, quando nos encantam
neste momento, curta paragem,
triste viagem,
notícia que se recebe, não aceita,
se rejeita,
mesmo agora, quando escrevendo,
me alheei do que estava fazendo,
pesaroso, entristecido
pelo trágico… acontecido,
a morte dum amigo!!!...
… esqueci a maravilha que contemplava,
cerrei os olhos, meditei, saí de mim, fui mais além,
revivi palavras escritas, graças tidas,
recordei aquela figura, bem sei,
o seu inconformismo, a sua revolta permanente,
aquele que foi, que deixou de ser gente,
ausentei-me do entorno, aonde regressei,
passados escassos minutos,
tornei a olhar, embevecido,
aquele espaço esquecido,
aqueles pequenos seres que vi, adorei,
na árvore de folhagem densa, vetusta,
ninho repleto de ovos ocultos
sob vigilância aturada dos seus criadores,
bem pertinho dum ribeiro de águas claras e mansas,
repleta de peixes delicados, velozes,
contraste de mortes, de dores,
pensamento que se me enovela, ensombra,
quando paras, quando descansas,
quando reparas, quando deparas
com notícia que te arromba,
te empurra para longe da Paz que procuras,
zonas tristes, zonas escuras,
morte sempre presente
sobre todas as criaturas,
belas, resplandecentes,
natureza que se refaz, ciclo que se completa,
afronta permanente, constante,
que se projecta
a cada instante,
uns que nascem,
inocentes, deliciados nos seus bocados,
outros que nos deixam, que partem,
conhecimento que se tem, amargura que nos choca,
alegria que se usufrui, dor que nos toca!!!... Sherpas!!!...