... mestre João... o ferreiro!!!...
… eram mestres do saber, tinham arte, faziam,
nas diferentes matérias primas que utilizavam,
com a mente, com as mãos,
apareciam,
objectos úteis, portas, camas, janelas,
portões de ferro, telhas, vidrados,
grandes potes, gamelas... pratos, jarros, telhados,
muros, regos, buracos fundos, lameiros, caminhos, sendas,
afanosos, cumpriam...
tarefas, ritos, com empenho, sabidos,
respeitados, mais que pais, para os aprendizes,
gaiatos, petizes,
nas oficinas que zumbiam, nos campos a perder de vista,
os ajudas,
vidas que se conquistam,
quantas custas, entoavam sons variados,
consoante materiais utilizados, aprendiam,
cresciam como os mais!!!...
… recuados, tempos de infância, recordo o João Ferreiro,
alugava bicicletas, perdição, poucas, já envelhecidas,
proporcionavam prazeres,
corridas, por um que outro tostão,
sério, compenetrado, useiro...
pragmático a tempo inteiro,
pouco ou nada sorria, tinha filhos, era prestável
com a catraiada,
pela calada...
sem sorriso, mestre na profissão que tinha,
ia, vinha,
viração, trabalho duro, pancadas ritmadas na bigorna,
no ferro quente que se molda...
fole que mantém temperatura elevada,
esforço, cara suada,
quando lembro,
ali, esforçados... alternados,
sons distintos,
um mais alto, retinto, malho leve, aliviado,
outro mais seco, quase extinto, mais pesado,
de acordo com o maço,
com a força... ajeita, destorça,
encanto, maravilha, vermelho vivo, brilha,
lança chispas, faúlhas doidas que se soltam,
aguardo, mergulham em água, arrefecem,
olham bem...
viram, reviram, param,
reparam,
estende a mão, aceita as moedas,salto para o selim,
vou embora, cabelos ao vento,
único pensamento...
fruição dum tempo,
bicicletas de sonho... onde me ponho,
nas que disponho
outrossim, deslocação rápida, fuga, encontro,
rodas de encantamento, doce momento, alugadas na casa do ferreiro
a tempo inteiro!!!... Sherpas!!!...