... residência de... Verão!!!...
… não me convidou, a porta estava aberta
quando passei,
de cansado que estava, sentei
no lugar vago daquele banco, parte incerta,
praça privilegiada, segundo constatei,
um ror de casas de crédito, outros bancos,
enormes gradeamentos, portas à prova de tudo,
segredos do Mundo,
seguranças com pistola à cinta,
prédios com muita pinta,
soberbos, apalaçados,
ocupando espaços e espaços,
quarteirões inteiros,
quando refastelado, costas amparadas,
pernas esticadas, pés descansados,
levantei os olhos pelos vultos enormes que me rodeavam,
reparei no companheiro,
ali ao pé,
olhar vago, nariz de quem se embebeda todos os dias,
sentado,
emanava algum cheiro de quem não se lavava há muito,
barba por fazer, roupas gastas pelo uso,
perdido, confuso,
sozinho na multidão,
residência de Verão,
saco de plástico no chão,
ausente, permanente,
um indigente,
na confluência de avenidas, de muitas ruas,
um naquinho de terra, duas passadeiras,
busto dum falecido eminente,
recordatório, agradecimento,
mesmo defronte daquele banco, casa sua,
corrente contínua de gente, fileiras,
hora de ponta, entradas, saídas,
uma fuga, um reencontro,
uma vida,
um desencontro,
garagem subterrânea,
sucedânea
provisória dos que têm carro,
se deslocam na metrópole,
os aparcam por instantes,
horas,
há quem esmole,
há quem se sente,
há quem tenha pela frente
busto de maestro já morto,
reconhecimento duma cidade,
apontamento,
realidade,
contraste que aflige,
pensei no local privilegiado em que me tinha sentado,
não há quem o corrija,
quadro que nos agride,
cidade que regurgita,
vomita,
no banco de todos os dias,
sujo, esfomeado, cara de bêbado,
vazio, posto de lado,
entrei, sentei,
porta aberta
na certa,
descanso de quem vem cansado,
cogitação momentânea,
sensação instantânea
de quem repele uma imagem,
pensa nos que não reagem,
admitem,
fingem,
ultrapassam,
disfarçam!!!... Sherpas!!!...