... Sirocco!!!...
... dias luminosos que, num repente, mudaram de feição,
ventos fortes do SUL, maré alta, muita chuva,
tudo que era perfeito,
imperfeição,
água por toda a parte, fora dos canais,
tristeza húmida que desalenta,
sala de estar, mais portentosa pela monumentalidade,
piscina aberta,
a quatro palmos do solo,
passadeira que nos conduz, enquanto Veneza afunda,
maré que incomoda, transtorna,
agravada pelo SIROCCO,
deixa de ser um sonho,
inconveniência que modifica hábitos,
dá tiques de requinte no calçado que se apropria,
botas de borracha de cano alto,
dfino recorte, cores que cativam,
dão tom à vestimenta,
agasalhos que se completam, lenços à volta do pescoço,
chapéus, bonés de variados tipos, com ou sem bicos,
inventiva de quem habita,
de quem vende uma cidade que é única,
sem rodas, sem fumos, sem escapes, ruídos esparsos,
nos táxis que são barcos,
anoitecer menos festivo,
na linha do horizonte daquela lagoa,
cruzeiros que seguem destino,
abrindo caminho,
solene,
relampejante, nos flashes que se vão disparando,
imagens que levam,
saudades que sentem,
estando ainda,
na hora da passagem, da partida,
saboreando um bom vinho tinto, palitando delícias de maravilha,
encostado a balcões modernos,
mais antigos,
vozear que nos segue,
acompanha no bom trato recebido,
na saborosa gastronomia de Burano,
nas jóias de artífices em vidro,
em Murano,
saltitante de ilha para ilha, passando na dos mortos,
cemitério que é descanso,
pormenor que lembro nas cores vivas das casas de famílias,
no pedacito que é catedral,
fio que se estende do outro lado do grande canal,
ambulâncias que acorrem a qualquer emergência,
polícia que utiliza transportes idênticos,
devagar, com urgência,
divagar pedonal, estreitinhas as ruas,
esplanadas nos “campos”
barulheira nas tratorias,
visual tão igual, na simpatia, na pujança,
no recebimento,
luxos, espaventos no palácio principal,
vista total do alto da torre,
violinos, pianos que tocam,
emudecem,
pela maré, pelo SIROCCO,
a quatro palmos do solo,
desalento momentâneo na velha senhora que continua
tão bela, tão única,
que se afunda,
não afunda,
se canta,
encanta, guarda num canto do pensamento,
dias de chuva, de vento,
dias de sol que valorizam ainda mais tanto esplendor... Sherpas!!!...